Os fantasmas da película
Planetário é um filme intrigante, sedutor, mas que nunca cumpre por inteiro o potencial que nele sentimos.
Da francesa Rebecca Zlotowski conhecíamos o interessante mas algo falhado filme anterior, Grand Central (2013), sobre um “amor louco” ambientado entre os operários de uma central nuclear.
Reencontramo-la agora com este Planetário, terceira longa, mais ambiciosa e igualmente interessante, mas que repete a sensação de uma cineasta com “mais olhos do que barriga”.
É, outra vez, um triângulo amoroso paredes-meias com a obsessão, agora entre duas irmãs médiuns americanas e um produtor francês na Paris de finais dos anos 1930, que persegue o romantismo do cinema como espaço de liberdade e invenção ao mesmo tempo que procura expressar a angústia de um momento de viragem na história do mundo: estamos à beira da Segunda Guerra Mundial, as tensões sociais estão ali, subterrâneas, prestes a vir ao de cima na primeira ocasião.
Tal como em Grand Central, Zlotowski quer pôr em imagens aquilo que é quase impossível de filmar — à imagem do seu produtor, que procura desesperadamente capturar em película os fantasmas que o assombram e que Kate, a mais jovem das irmãs, parece conseguir invocar sem esforço.
Mas esbarra não apenas na impossibilidade de registar fisicamente o espírito na emulsão, esbarra também na dispersão narrativa de um filme que quer falar da xenofobia latente na sociedade francesa (então como hoje) e que se parece colocar do lado dos friques, dos não-alinhados, ao mesmo tempo que se deixa seduzir pela nostalgia esteta dos anos dourados que não voltam mais, dos momentos mágicos à beira do fim do mundo.
Rebecca Zlotowski tem de facto qualquer coisa, um “je ne sais quoi” que faz de Planetário um objecto intrigante, interessante, sedutor, não deixando embora de prolongar a sensação de insatisfação, de ficar “aquém” do potencial que já nos deixara Grand Central.