Ciberataque: piores receios não se estão a confirmar
Apesar do regresso ao trabalho esta segunda-feira, não há registos de incidentes nos serviços de saúde e de justiça.
Para evitar que os serviços sejam atingidos pelo ataque informático com recurso ao software malicioso WannaCry que esta sexta-feira atingiu empresas e organizações a nível global, o Ministério da Saúde permanece sem acesso ao email. A informação foi dada ao PÚBLICO esta sexta-feira e a situação prolonga-se esta segunda-feira, detalhou Ana D'Avó, do gabinete de comunicação dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) que sublinha que - até agora - não foi registado ainda nenhum incidente.
A Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) decidiu suspender temporiamente a recepção de emails que não sejam provenientes do endereço do Ministério da Saúde como medida de precaução. Henrique Martins, o presidente do organismo que gere o sistema informático das unidades do Serviço Nacional de Saúde, dizia na sexta-feira que a medida poderia parecer um pouco excessiva, "mas preferimos pecar por excesso”, sublinhou.
A SPMS está “articulada” com a operadora que gere a rede informática da saúde, a Nos, para reforçar as medidas de segurança, acrescentou Henrique Martins. “Estamos a monitorizar a rede informática da saúde, que é privada, está fisicamente separada da internet”, explicou o presidente da SPMS, que recorda que ainda recentemente foi feita uma campanha para a alertar para o problema dos vírus que chegam através de emails.
De acordo com os serviços, "a apreciação dos factos disponíveis leva à necessidade de medidas cautelares adicionais". Mais esclarece que "as medidas estão a ser revistas a cada 24 horas com base na avaliação do risco a cada momento".
O SPMS pede a "compreensão dos utentes para qualquer pequena perturbação decorrente destas medidas de segurança", e destaca que as consequências da paragem deste serviço são um meio necessário para evitar prejuízos maiores, caso não sejam adaptadas medidas de segurança.
Os serviços continuam sem saber quando irão retomar os serviços, mas tal deverá acontecer "em breve". Os funcionários públicos são ainda alertados a adoptar medidas de segurança extraordinárias, para além do cuidado do e-mail e a desligar imediatamente o sistema, caso detectem alguma anomalia. Na terça-feira serão colocadas a circular novas indicações, adianta o SPMS.
Também o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) emitiu um alerta à administração pública durante este fim-de-semana para que os serviços não abram e-mails de origem desconhecida para evitar o bloqueio de computadores, como aconteceu na passada sexta-feira e que atingiu pelo menos 150 países e fez mais de 200 mil vítimas, segundo um balanço feito este domingo pela Europol e que resultou no sequestro de ficheiros a troco de dinheiro.
O ataque atingiu, indiscriminadamente, grandes organizações públicas e várias empresas multinacionais a nível global. O ransomware é um tipo de malware que infecta os sistemas de computadores, restringindo o acesso dos utilizadores aos sistemas infetados.
De acordo com Pedro Veiga, coordenador do CNSCS, a tolerância de ponto (devido à visita do Papa) terá ajudado a que os números em Portugal não fossem maiores, refere em declarações ao Diário de Notícias. Durante este fim-de-semana, o centro manteve uma equipa de resposta rápida e prevenção, monitorizando os sistemas informáticos da administração central do Estado e dando apoio a algumas empresas, acrescentou.
De acordo com o Guardian, esta segunda-feira, vários tratamentos foram cancelados em vários hospitais porque os computadores usados para verificar o resultado de testes e exames médicos continuam bloqueados. Dos 248 hospitais britânicos, 48 estão ainda a ser afectados, revela o Governo britânico. O ministro da Segurança britânico, Ben Wallace, negou que este ataque e vulnerabilidade do sistema de saúde britânico seja resultado de subinvestimento, como acusam os trabalhistas, em véspera de eleições nacionais - a 8 de Junho, cita a Reuters.
Ao jornal britânico, Oliver Gower, responsável da agência britânica de combate ao crime, sublinhou que decorre uma complexa investigação internacional para deter os responsáveis pelo ataque. “Os cibercriminosos podem acreditar que são anónimos, mas iremos usar todas as ferramentas ao nosso dispor para conseguir justiça”, disse.
Dizem ainda os números mais recentes citados pela Associated Press que, só na China, foram afectadas mais de 29 mil empresas, de acordo com os números avançados pela agência do Governo chinês.
A maior parte dos serviços afectados foram as universidades, mas o ataque atingiu também estações de comboios, de combustível, escritórios, hospitais, centros comerciais e serviços públicos.
Ainda durante o fim-de-semana, o director do organismo policial da União Europeia, Rob Wainwright considerou que este é um ataque “sem precedentes”.