Sindicato diz que falta de material nos centros de saúde é "gritante"
Sindicato Independente dos Médicos critica ministro por ter atribuído às Administrações Regionais de Saúde a responsabilidade pela falta de condições das Unidades de Saúde Familiar.
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) considera que a falta de material, de equipamentos e de condições de trabalho de muitas unidades dos cuidados de saúde primários (centros de saúde) é “ainda mais gritante” do que as falhas denunciadas no 9.º Encontro Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF), que terminou no fim-de-semana.
Em comunicado divulgado no domingo, o SIM critica o ministro da Saúde por ter atribuído às Administrações Regionais de Saúde (ARS) a responsabilidade pela falta de material nas USF, que são unidades constituídas voluntariamente por médicos, enfermeiros e assistentes técnicos. Adalberto Campos Fernandes considerou que a falta de material relatada durante o encontro é “inaceitável” e avisou que a não resolução deste problema “terá consequências”.
“Custa-me muito aceitar que haja USF que digam que têm falta de material e fica aqui dito claramente aos presidentes das ARS que isso é politicamente inaceitável. É deles a responsabilidade de resolver isso rapidamente. Se não o fizerem, não estão a executar em condições a vossa missão e isso terá de ter consequências”, declarou Adalberto Campos Fernandes, citado pela Lusa.
Em resposta, o SIM assegura que o problema é de maior dimensão e que nas unidades de cuidados de saúde personalizados (as que funcionam ainda de acordo com o modelo tradicional dos centros de saúde) as falhas são mais graves. “Sabe que ainda há 18% de unidades funcionais que usam computadores com sistemas operativos (Windows XP) que já nem sequer são passíveis de ser actualizados?”, questiona.
O SIM pergunta também ao governante o que fez o ministério e as suas estruturas para "responder aos alertas internos" sobre estes problemas, citando a Clarificação Técnica da Divisão de Saúde Ambiental e Ocupacional da Direcção-Geral da Saúde, de 19 de Fevereiro de 2016, que alertava já para o facto de “existirem condições físicas e materiais do posto de trabalho (ex. gabinetes, equipamentos e utensílios) não adequadas à função” dos médicos de família e que o sistema informático padece de “múltiplas falhas e interrupções”.
No encontro, o ministro aconselhou mesmo as ARS que fazem “menos bem a fazer melhor ou mudar de vida”. Adiantou que está a ser preparada uma nova lei orgânica para as ARS e que está a ser repensado o modelo, que considerou “envelhecido”. “As ARS resultaram da extinção das sub-regiões e da acumulação de competências com outras entidades, perderam-se no papel e afastaram-se do importante que era estar no terreno, na coordenação, no acompanhamento estratégico e identificação de necessidades”, enfatizou.
Escusando-se a comentar o comunicado do sindicato, uma fonte do Ministério da Saúde disse que o governante apenas estava a tentar destacar, de uma forma informal, que o está em causa é uma questão de organização mais do que de volume de financiamento dos cuidados de saúde primários.