Costa: Estado é laico mas "não deve ignorar quais são os sentimentos religiosos"

O primeiro-ministro, que teve um encontro a sós com o Papa Francisco, diz ter levado "uma palavra de respeito, de gratidão".

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Em Fátima, António Costa defende respeito uns pelos outros. Enric Vives-Rubio

O primeiro-ministro defendeu este sábado que o Estado laico deve respeitar as confissões religiosas, e aquela que é maioritária em Portugal, ao mesmo tempo que não tem limitado a forma como legisla e tem "modernizado os valores da vida em sociedade".

António Costa afirmou, ainda, que foi num "sinal de respeito" que participou esta sexta-feira na recitação do rosário, na procissão das velas e na eucaristia e que este sábado voltará a participar nas cerimónias religiosas em Fátima.

"A visão que eu tenho de um Estado laico é um Estado que, obviamente, é independente na sua autodeterminação, mas que não pode nem deve ignorar quais são os sentimentos religiosos e que a religião é um fenómeno social e que, obviamente, em Portugal há claramente predominância de uma confissão", sustentou, em declarações aos jornalistas após um encontro a sós com o Papa Francisco, que termina hoje uma viagem apostólica a Fátima.

O primeiro-ministro argumentou que não tem sido pelo catolicismo predominante no país "que o Estado tem estado limitado na forma como legisla, na forma como tem modernizado os valores da vida em sociedade".

"Do mesmo modo que não seria de modo algum aceitável que o Estado não só limitasse como não respeitasse profundamente a forma como a maioria dos portugueses vivem a sua religiosidade", acrescentou.

António Costa salientou a importância do convívio entre todos com respeito: "Acho que é respeitando-nos uns aos outros que nós fortalecemos a nossa democracia, que nós fortalecemos a nossa liberdade".

"Em toda a nossa história, sempre que alguém não respeitou as crenças e a liberdade de crença dos outros, as coisas não correram bem. Uma das grandes lições do nosso regime democrático foi ter sido capaz de reconciliar todos os portugueses independentemente das suas crenças, num respeito mútuo", defendeu.

O primeiro-ministro manifestou ainda ao Papa Francisco a vontade de Portugal colaborar na promoção dos valores da protecção dos mais frágeis, como o acolhimento aos refugiados, a promoção da paz nas instâncias internacionais e o desenvolvimento de África.

Após um encontro a sós com o líder da Igreja Católica, Costa contou aos jornalistas que levou "uma palavra de respeito, de gratidão" pela visita, mas também "a vontade de Portugal, enquanto Estado em colaborar na promoção daqueles valores que têm sido causas importantes" para Francisco, "designadamente a protecção dos seres humanos que estão numa situação mais frágil".

"O apoio que temos dado aos refugiados, a grande preocupação que o Santo Padre tem revelado relativamente à necessidade de desenvolvimento do continente africano e as responsabilidades que Portugal tem nessa matéria, a colaboração para a paz em todo o mundo e a construção quer ao nível das Nações Unidas, quer ao nível sobretudo da União Europeia, de novas uniões de valores para defesa da dignidade da pessoa humana", relatou António Costa sobre os temas falados no encontro.

Uma família de refugiados do Iraque, que se encontra a viver na região, conheceu ainda o Papa Francisco após o encontro, salientou António Costa.