Turismo impulsiona maior criação de emprego desde 1998

Desde pelo menos 1998 que a economia portuguesa não tinha criado tantos empregos no espaço de 12 meses. Foram mais 145 mil postos de trabalho que ajudaram a colocar a taxa de desemprego mais perto da barreira dos 10% no arranque de 2017.

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O emprego foi o tema escolhido pelo primeiro-ministro, António Costa, para o debate quinzenal que decorreu nesta quarta-feira ANTÓNIO COTRIM/lusa

No espaço de doze meses, a economia portuguesa criou, entre Março de 2016 e Março de 2017, 144.800 postos de trabalho, uma subida inédita e a maior alguma vez registada desde, pelo menos, 1998. Os dados, revelados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmam a melhoria do desempenho do mercado de trabalho em Portugal e dão algumas pistas sobre aquilo que está a contribuir para este resultado: maior dinamismo nas actividades relacionadas com o turismo, com a contratação sem termo e os trabalhadores mais velhos a saírem privilegiados.

Depois de perdas sucessivas entre 2008 e 2013, o emprego começou a recuperar na recta final de 2013, mas nunca se tinha verificado um aumento homólogo desta dimensão.

O emprego cresceu em todos os sectores de actividade, mas foi nos serviços que se registou um aumento homólogo da população empregada: mais 111.500 pessoas, o que compara com mais 27.900 na indústria e mais 5.400 na agricultura.

O que explica este resultado tão impressionante nos serviços? Olhando com maior detalhe para este sector, são as actividades ligadas ao turismo que mais aumentam, em particular o alojamento e a restauração que registou mais 39.800 pontos de trabalho. Mas também os transportes tiveram uma subida significativa de 31.800 empregos, assim como as actividades imobiliárias que registaram mais 13.500 pessoas empregadas.

Na área da indústria, o emprego na construção teve uma subida significativa (mais 16 mil postos de trabalho), o que também pode estar relacionado com um maior dinamismo no sector do alojamento para turistas.

O aumento do emprego foi particularmente expressivo nos homens e entre a população mais velha, com um aumento de 101.200 postos de trabalho nas pessoas com 45 a 64 anos. Os trabalhadores mais qualificados também estão entre os que beneficiaram do clima positivo, como o INE a dar conta de um aumento de 60.300 empregos entre a população com o ensino secundário e 58.600 nos que frequentaram o superior.

Contrariando a evolução verificada em todos os primeiros trimestres da série estatística iniciada em 2011, nota o INE, nos primeiros três meses de 2017 havia mais 14.500 pessoas empregadas do que no trimestre anterior (um aumento de 0,3%). A população empregada totalizava 4.658.100 pessoas.

Recibos verdes continuam a aumentar

Nas novas contratações feitas em 2017, as empresas parecem estar a privilegiar os vínculos permanentes. A contratação sem termo (que continua a ser o vínculo dominante no mercado de trabalho em Portugal) aumentou 4,8% em relação ao primeiro trimestre de 2016, o que se traduziu em mais 138 mil pessoas com este tipo de contrato.

Ao mesmo tempo, o INE dá conta de um aumento de outros tipos de contratos (que correspondem grosso modo aos recibos verdes) na ordem dos 13,8%, mantendo-se a tendência que já se verificava no final do ano passado, o que se traduziu em mais 16.400 pessoas a recibos verdes do que no período homólogo.

Já a contratação a termo recuou, tanto em relação ao trimestre anterior como ao período homólogo, influenciando o peso que os vínculos precários têm no total dos trabalhadores por conta de outrem. No primeiro trimestre, 21,2% destas pessoas tinha contratos a prazo ou estava a recibos verdes, uma percentagem inferior aos 22% verificados no início de 2016 e a mais baixa dos últimos dois anos.

O Governo está a preparar um conjunto de medidas para reduzir a precariedade no mercado de trabalho em Portugal e já nesta quinta-feira arranca o programa de regularização de precários na função pública.

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Desemprego no nível mais baixo dos últimos sete anos

Do lado do desemprego também chegam boas notícias, com a taxa a reduzir-se para os 10,1% nos primeiros meses de 2017. Trata-se da taxa desemprego mais baixa dos últimos sete anos e para encontrar um valor semelhante é preciso recuar ao quarto trimestre de 2009, altura em que ficou precisamente nos 10,1%. Daí em diante, o desemprego iniciou uma trajectória de subida que se prolongou até ao início de 2013, quanto atingiu os 17,5%. Depois desse pico, o desemprego tem vindo a recuar e, nos trimestres mais recentes a estabilizar.

Os dados do INE mostram que nos primeiros três meses de 2017 o desemprego ficou abaixo dos 10,5% registados no trimestre anterior e dos 12,4% verificados no período homólogo de 2016.

No final de Março havia 523.900 pessoas desempregadas, menos 116.300 do que no início de 2016, o que corresponde a uma diminuição de 18,2% - a maior desde o terceiro trimestre de 2013. Na comparação com o trimestre anterior, a população desempregada recuou 3,5% (menos 19.300 pessoas).

A diminuição homóloga da população desempregada fez-se sentir em todos os grupos, mas o instituto de estatística destaca o recuo verificado nos homens, na faixa etária entre os 25 e os 34 anos e nas pessoas que terminaram o 9º ano.

A taxa de desemprego jovem também caiu para 25,1%, menos 2,6 pontos percentuais do que no trimestre anterior e 5,9 pontos abaixo da taxa verificada no período homólogo, afectando 91.600 activos entre os 15 e os 24 anos.

O INE revela ainda que 11,8% do total dos jovens em Portugal (265,5 mil) não estavam empregados, nem a estudar, nem em formação. Ainda assim, a percentagem de “nem-nem” teve um recuo de 1,2 pontos percentuais face ao trimestre anterior e de 2,1 pontos em comparação com o período homólogo.

Mais de 300 mil em desemprego de longa duração

Os primeiros meses do ano também apontam para a melhoria de um dos indicadores que mais preocupa o Governo e as instituições internacionais: o desemprego de longa duração recuou tanto em relação ao período homólogo (-18,6%) como ao trimestre anterior (-8,6%), reforçando-se a tendência iniciada no início de 2014.

Ainda assim, mais de metade dos desempregados (58,9%) estão afastados do mercado de trabalho há 12 ou mais meses. São 308.500 pessoas e a esmagadora maioria, ou seja 68,2%, mantém-se nessa situação há mais de dois anos.

O desemprego caiu em todas as regiões do país, mas continua a ser superior à média nacional na Madeira (12,5%), no Norte (10,9%), em Lisboa (10,8%) e no Algarve (10,6%). Já nos Açores (9,3%), Alentejo (9%) e Centro (8,1%) a taxa situou-se abaixo da média.

Os dados mensais mais recentes já apontavam para um descida do desemprego e em Fevereiro a taxa ficou, pela primeira vez em oito anos, abaixo dos dois dígitos (9,9%). Contudo, estes dados são apurados de forma diferente pelo INE e não podem ser directamente comparáveis com as estatísticas trimestrais agora divulgadas. Uma das principais diferenças é o facto de as estatísticas mensais serem ajustados de sazonalidade, enquanto as trimestrais não são corrigidas dos efeitos das actividades sazonais no emprego.

O objectivo do Governo é chegar ao final de 2017 com uma taxa de desemprego de 9,9%, um indicador que deverá continuar a cair até chegar aos 7,4% da população activa em 2021.

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