Ciclicamente são noticiados casos de síndrome de choque tóxico associados a uma utilização prolongada de tampões vaginais. Molly Pawlett, britânica de 14 anos, foi o caso mais recente na imprensa internacional: a adolescente usou um tampão durante cerca de dez horas — tempo superior ao limite aconselhado pelos médicos — e foi diagnosticada com a síndrome, uma infecção generalizada (septicemia) causada por uma bactéria. A estudante de Northamptonshire foi internada no início de Abril de 2017 e já se encontra em casa, a recuperar. Apesar do alarmismo das notícias, especialistas garantem que usar tampões "é seguro".
Mas, afinal, o que é a síndrome de choque tóxico menstrual? Palavra a Fernanda Águas, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG): “Trata-se de um choque séptico, uma infecção generalizada que se espalha através da corrente sanguínea e atinge órgãos vitais”. A causa mais comum é a colonização vaginal da bactéria Staphylococcus aureus. “Tem sido relacionada com o uso de tampões em situações de permanência prolongada”, diz a médica ginecologista — “mas não só”.
Isto porque a síndrome pode ainda ser diagnosticada em mulheres não menstruadas, crianças e homens com outros quadros infecciosos como, por exemplo, pneumonias. Esta síndrome “atinge órgãos como os rins ou o fígado, fundamentais, e a pessoa pode entrar em falência multi-orgânica”. É, contudo, “muito rara”, sublinha Fernanda Águas, que, “em quase 30 anos de prática clínica”, nunca teve conhecimento de algum caso em Portugal. Febre, má-disposição, diarreia, irritações cutâneas e dores de cabeça são alguns dos sintomas que, ao surgirem abruptamente, podem apontar para a síndrome, enumera a página do Serviço Nacional de Saúde (NHS) britânico.
“É seguro usar tampões”, faz questão de afirmar a especialista em Ginecologia/Obstetrícia Teresa Bombas, presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção (SPDC). “Não há motivo de alarme. Esta síndrome não acontece nem mais nem menos em mulheres que usam tampões”, refere. A Staphylococcus aureus, continua, “é uma bactéria presente no tracto genital em mais de 30% das mulheres”. O que acontece é que “algumas são mais agressivas do que outras, pelas toxinas que produzem”. Durante o período menstrual, “algumas mulheres não conseguem produzir anticorpos para se protegerem da infecção”. O tampão, explica Fernanda Águas, “é um meio de cultura que se encontra na vagina, habitualmente habitada por microorganismos da flora normal”.
Os estudos, assegura Teresa Bombas, “não conseguem estabelecer uma relação de causalidade directa” entre o uso de tampões e esta síndrome — desde que as mulheres sigam as regras a que a utilização de um absorvente interno obriga. E que regras são essas? A primeira — e mais importante — é a mudança do tampão, que não deve permanecer no canal vaginal por mais de oito horas consecutivas. “E nunca durante a noite”, completa a presidente da SPG. “À noite, é preferível optar por outra protecção porque a mulher pode ter um sono superior a oito horas e não precisa preocupar-se.” Mulheres com doenças pélvicas —“infecciosas ou inflamatórias” —, refere Teresa Bombas, não são aconselhadas a usar este tipo de protecção. Relevante é, também, o estado de conservação dos próprios tampões, que “não devem ser guardados abertos ou em sítios contaminados”; no fundo, manter as condições mínimas de higiene sanitária. E na presença de qualquer dificuldade, dor ou desconforto ao introduzi-lo, o melhor é procurar o médico, defendem ambas as especialistas ouvidas pelo P3. “Um tampão bem colocado não deve ser sentido.”
No Serviço de Ginecologia que dirige, na Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, Fernanda Águas já teve contacto com complicações associadas ao não cumprimento destas regras. “Já vi mulheres que colocaram um tampão sem retirar o anterior”, conta, o que pode resultar em infecções pélvicas. Descuidos mais comuns em jovens, revela, ainda que não considere serem fruto de “falta de informação”. “É distracção”, acredita.