Belenenses protagoniza pesadelo de casa cheia em Alvalade
Equipa do Restelo não vencia no reduto "leonino" desde Janeiro de 1955 e interrompeu um ciclo negativo de sete derrotas consecutivas.
Corriam os Jogos Olímpicos de 2008 na China, quando Marco Fortes, atleta do Sporting, justificou a má prestação na qualificação para a final da prova de lançamento do peso com a hora madrugadora a que foi obrigado a competir. A sua frase ficaria célebre: “Cheguei à conclusão que de manhã só estou bem na caminha.” Algo parecido aconteceu este domingo com a equipa principal “leonina”. A forma pachorrenta como abordou a partida matinal com o Belenenses, redundou num resultado histórico para a equipa de Belém, que saiu do Estádio José Alvalade com um triunfo por 3-1, para escândalo do público da casa que quase encheu as bancadas.
Para se apreciar a real dimensão deste sucesso do Belenenses é necessário recorrer a alguns dados factuais. A equipa do Restelo não vencia fora este derby para o campeonato há 62 anos e meio (a última vitória datava de Janeiro de 1955); nunca tinha conquistado três pontos no Estádio José de Alvalade, neste ou no anterior; marcara apenas dois golos neste palco nos últimos 11 anos e atravessava uma fase negra de sete jogos consecutivos a somar derrotas.
A questão competitiva pode ter pesado nos jogadores do Sporting, que têm de contentar-se apenas com o terceiro lugar do campeonato, mas a enchente de público no estádio poderia ter tido um efeito motivador por si só. Também não deixa de ser relevante a ausência de jogadores fundamentais como Alan Ruiz (lesionado) ou Gelson Martins (castigado), mas será uma fraca desculpa face aos argumentos dos plantéis das duas equipas.
A verdade é que o “leão” entrou em campo aburguesado, com alguma soberba e pouca vontade de correr face ao calor do final da manhã lisboeta. O resultado foi uma primeira metade soporífera, sem lances de perigo, com a equipa da casa instalada, as mais das vezes, no meio campo contrário, mas em ritmo de passeio dominical, abusando de passes laterais e sem pingo de criatividade para ultrapassar a defesa visitante.
O intervalo não fez grande diferença, mas um golo quase fortuito, logo aos 51’ trouxe alguma emoção ao encontro. Um cruzamento de Bryan Ruiz fez a bola embater na trave, o guarda-redes Ventura não conseguiu segurar e esta acabou por sobrar para Bruno César, ao segundo poste, atirar para as redes. Um golo esquisito, mas que despertou as bancadas dormentes, assim como a equipa no relvado, que puxou um pouco pelo acelerador.
O entusiasmo foi efémero e a modorra voltou a afligir os “leões”. Já no Belenenses o efeito seria contrário. E mais ainda quando Matheus Pereira tocou com a mão a bola na área sportinguista. Abel Camará encarregou-se de empatar da marca de castigo máximo, aos 65’. Jesus acusou o toque, quis espevitar os seus e fez saltar do banco Campbell (para o lugar de Matheus Pereira) e Castaignos (Bryan Ruiz), aos 68’. A troca até fazia sentido, mas o efeito foi desmoralizador em termos atacantes. A excepção acabou por ser um falhanço incrível de Castaignos, que não aproveitou uma hesitação de Ventura.
Perante a relativa passividade do Sporting, o Belenenses iria apostar tudo na recta final. Aos 84’, na cobrança de um livre lateral, o defesa central Dinis Almeida remata acrobaticamente para colocar a sua equipa em vantagem. Mas o resultado iria ainda ganhar tons de escândalo, quando Gonçalo Silva ampliou a vantagem dos homens de Belém. Os assobios das bancadas foram inevitáveis e compreensíveis.