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Pode correr mal

Teria sido melhor que o intervalo entre a primeira e a segunda volta das eleições francesas fosse dois dias, não duas semanas. Marine Le Pen é poderosa em campanha, muito mais que o adversário.

Teria sido melhor que o intervalo entre a primeira e a segunda volta das eleições francesas fosse dois dias, não duas semanas. Marine Le Pen é poderosa em campanha, muito mais que o adversário. A líder da FN tem tarimba de rua, é mestre a manipular multidões e domina facilmente a agenda mediática. Com ideias simples, monta um cenário a branco e preto que facilita a escolha de quem a ouve: contra a finança, contra a Europa extremista, contra a herança do centrão político que tem governado o país. Desmonta acusações de extremismo com apelos à soberania que não disfarçam a agressividade.

Contra isto, Emmanuel Macron parece fraco e desinspirado. A sua campanha está a ser desastrosa e já começou a ceder no campo das convicções: a entrevista que deu à BBC, ameaçando a União Europeia com um ‘Frexit’, é tudo menos consequente. Macron pensará que assim recupera votos de quem está indeciso entre os dois candidatos, esquecendo-se que não precisa de escolher campos. O seu campo, a contragosto ou não, é o do humanismo e é isso que ele deve defender. Jogar à defesa é o erro habitual dos que lutam contra os populistas, normalmente com consequências desastrosas – até porque quem não gosta da União Europeia já tem em quem votar, não vai agora mudar por causa das meias-palavras de um político pouco experiente.

Macron faria melhor em vincar as diferenças em vez de procurar pontes com os eleitores de Le Pen. Faria mais sentido defender princípios e convicções em vez de ir à luta dos pequenos argumentos, até porque a França ainda terá humanistas suficientes para garantir a vitória. A verdade é que Emmanuel Macron está a ser defendido não pelos seus méritos, não pelas suas políticas, mas para evitar que o outro candidato ganhe. E isto é um problema: Quem estima a democracia não pode nunca limitar o seu voto ao ódio ao candidato alheio. Quem aprecia o funcionamento do sistema representativo não o pode reduzir a um facilitismo maniqueísta.

Por isso o respeito que Macron diz ter por quem o apoia apenas para contrariar a FN é um convite à perplexidade. As eleições lutam-se por ideais e ganham-se por convicções. É o que está a fazer Le Pen, mantendo-se fiel às suas convicções originais e arregimentando com mestria cada vez mais apoiantes para a sua causa. Macron, ao contrário, é vago e deseja construir uma casa ideológica suficientemente ampla para acolher todas as boas intenções. Pode correr mal.

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