Empresa de Famalicão cria robot para trabalhar lado a lado com dentistas
ESI começou há dez anos, como spin off da Universidade do Minho e é hoje uma PME de tecnologia industrial quase a facturar dois milhões de euros. Está a preparar-se para dar os primeiros passos na área da saúde
Não é futurismo, já é uma realidade e foi apresentada ao mundo numa das mais importantes feiras mundiais de dispositivos médicos na área da medicina dentária, no Dubai. Se as cadeiras do dentista já impressionavam pela parafernália de botões, comandos e instrumentos, há agora um outro elemento que será capaz de proporcionar aos médicos ganhos de eficácia em matéria de imagiologia dentária e em várias tarefas clínicas: um robot colaborativo, capaz de trabalhar lado a lado com o dentista, que o controla pela voz. As funções que pode desempenhar passam sobretudo pelo registo em fotografia e vídeo da situação do paciente e todos os passos de um episódio médico, mas há mais possibilidades de utilização em estudo.
Este robot, que pode ser adaptado em função das necessidades específicas da unidade de saúde em que for instalado, deverá entrar em comercialização ainda neste ano e custar cerca de 60 mil euros cada unidade. A Dental Engineering Innovation (DEI), assim se baptizou a parceria que criou este robot, resultou de uma joint-venture entre dois médicos dentistas e a ESI – Engenharia, Soluções e Inovação, uma PME de tecnologia industrial com sede em Famalicão.
A ESI foi fundada há dez anos num spin-off da Universidade do Minho integrado por três alunos de engenharia mecânica. Um professor desafiou-os a transformar o projecto final que apresentaram para uma cadeira numa patente a comercializar – era um elevador de cadeira de rodas para usar em ambulâncias, por exemplo. Muita coisa se passou desde então. A ESI passou de uma empresa de 3 colaboradores, três computadores, 13 clientes e um escritório emprestado, e partilhado com outras empresas, para o actual grupo empresarial com 22 colaboradores, mais de 145 clientes e uma facturação que este ano deverá atingir os dois milhões de euros. Se é para apontar o dedo a alguém, desta vez, não se pode dizer que a culpa foi do mordomo - só se o mordomo fosse um robot. Ou vários.
Esta não é a primeira vez que a ESI avança para a inovação em nome próprio, mas a verdade é que ao longo dos seus dez anos de actividade tem-se empenhado mais em desenvolver processos inovadores na cadeia de produção de outras empresas. Entre a sua carteira de clientes estão pequenos e grandes parceiros, como a corticeira Amorim, a IKEA, a Simoldes ou a Faurecia, ou até, mais recentemente, os indianos da Sakhti. Em comum, todas elas têm em algum momento da sua linha de produção processos que foram desenvolvidos pela ESI.
Ser transversal a toda a indústria é uma mais-valia que faz com que a ESI cresça e se mantenha competitiva. “Não produzimos rolhas, mas estudamos muito para perceber o processo produtivo e apresentar soluções”, sublinha Gil Sousa, um dos três sócios fundadores, que explica ao PÚBLICO que um dos grandes desafios é estudar bem os processos produtivos e escolher bem as empresas a quem vai apresentar propostas. “Quando estamos a trabalhar para uma indústria o nosso objectivo é desenvolver uma solução que resolva questões relacionadas com a produtividade, ou rentabilidade de um determinado processo ou equipamento”, ilustra, dando como exemplo precisamente o desafio que lhe foi lançado pelo grupo Amorim. As rolhas de cortiça passaram a ser empilhadas na vertical, como copos ou cadeiras de sala de reuniões, e depois envolvidas em plástico, em vez de ensacadas “aleatoriamente” Os ganhos com a operação logística aumentaram de forma notória (cerca de 30%) e o aproveitamento do produto embalado pelo cliente foi muito maior. “O grupo Amorim confiou em nós, desafiou-nos a criar uma solução, e adquiriu-a de imediato, patenteando-a”, acrescenta.
Hoje há é legítimo falar da ESI como um grupo empresarial, porque os mesmo três jovens que saíram da Universidade há dez anos, montaram também, em 2015, a Behind, uma empresa para trabalhar na área da arquitectura e da domótica, e onde desenvolveram tecnologias que, por exemplo, instalam escadas interiores que desaparecem quando não são necessárias ou “destapam” um pátio exterior com um deck de madeira para revelar uma piscina aquecida. Além da piscina com fundo móvel, a Behind fez também o projecto e a montagem de uma parede móvel que está incorporada no altar do Santuário de Fátima com a finalidade de permitir que a imagem da Nossa Senhora de Fátima seja visualizada a longa distância com mais definição. Trata-se de uma parede em mármore verde escura que está escondida na parte de baixo do altar e que sobe quando a imagem está no altar – com recurso a um mecanismo robotizado, claro está. “É quase uma peça artística, não existe nenhuma igual, que foi desenvolvida pela arquitecta Paula Santos e que a Behind concretizou”, explica Gil Sousa.