Vamos comer Juliette Binoche

É louvável ver um cineasta arriscar-se fora da sua zona de conforto mas é nos momentos mais simples e menos forçados que Ma Loute parece fazer sentido.

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O humor, ou pelo menos este humor grotesco, carregado, excessivo, não fica muito bem a Dumont
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Se O Pequeno Quinquin foi o momento em que o cinema de Bruno Dumont se abriu ao humor e à irrisão como possível caminho para a transcendência e a espiritualidade que todos os seus filmes procuram, Ma Loute é o filme onde esse humor “desabrocha” por completo.

Nitidamente invocando os pioneiros da comédia e do burlesco como Chaplin ou Laurel e Hardy e estilistas como Tati (na dimensão de câmara lenta de muitos dos gagues), Dumont põe em jogo novamente “nós” e “eles”, ricos e pobres, aristocratas e pescadores, nesta história de antropofagia cultural e literal onde uns comem e outros são comidos, com um tom de surrealismo grotesco paredes-meias com satiristas como Ferreri ou Buñuel.

É raro, e é louvável ver um cineasta arriscar-se fora da sua zona de conforto e ir buscar actores de nome (Luchini, Binoche, Bruni Tedeschi, Jean-Luc Vincent) que se abandonam com prazer à desconstrução das suas imagens de marca. Mas é nos momentos mais simples e menos forçados — os encontros quase sem palavras entre Ma Loute e Billie, o filho de pescador e a filha de aristocrata, que irradiam a luminosidade que o resto do filme não tem — que Ma Loute parece verdadeiramente fazer sentido, e todas as momices à sua volta uma máscara ou uma fachada que Dumont decidiu experimentar a ver como lhe ficava. O humor, ou pelo menos este humor grotesco, carregado, excessivo, não lhe fica muito bem.

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