Montenegro em afirmação no PSD sugere mudança no sistema eleitoral

“É um dos rostos do futuro do PSD”, disse Miguel Relvas, uma das figuras sociais-democratas que o líder parlamentar juntou num almoço-conferência. Montenegro quer sistema à grega, com bónus de deputados para o partido mais votado.

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Montenegro defende um Estado mais “enxuto” e uma redução da carga fiscal DANIEL ROCHA

A semente de uma possível candidatura à liderança do PSD está lançada. Num ambiente de boa disposição, o líder parlamentar Luís Montenegro juntou esta quinta-feira no mesmo almoço-conferência boa parte das estruturas do partido, da sua direcção da bancada e alguns deputados. E tinha na sua mesa o antigo número dois de Passos Coelho, Miguel Relvas, assim como o actual vice-presidente do partido, Marco António Costa. Na intervenção, falou de Europa, desenhou uma ideia sobre Estado e lançou um desafio para a alteração ao sistema eleitoral.

Já muitos dos políticos, empresários e diplomatas, como o embaixador da China, tomavam o aperitivo no almoço organizado pelo International Club of Portugal, quando o orador convidado chegou ao hotel da iniciativa e atraiu as atenções. Por entre sorrisos, cumprimentavam-se os líderes das distritais de Lisboa (Miguel Pinto Luz) e do Porto (António Bragança Fernandes), mas igualmente outros dirigentes como os presidentes das distritais de Viseu, Castelo Branco, Guarda, Santarém, que também são deputados. No final do discurso, o ex-ministro e agora consultor Miguel Relvas rejeitou perante os jornalistas qualquer regresso à vida política activa, mas assumiu publicamente o seu apoio a Luís Montenegro. “É incontestavelmente um dos rostos do futuro do PSD”, respondeu, quando questionado sobre se o actual líder da bancada poderá vir a presidir ao partido.

Ao almoço, Montenegro prometeu uma intervenção diferente, das que faz nos debates parlamentares, e até algo “despartidarizada”. Assumindo que no que diz respeito ao sistema político fala por si, e não pelo partido, lançou um desafio à esquerda para que se altere o modelo eleitoral, aproximando-o do da Grécia, onde o partido vencedor tem um bónus de 50 deputados. Uma forma de “aproximar” eleitores de políticos.

“Não quero ajustar contas com as legislativas de 2015”, sublinhou, desafiando BE e PCP a responderem se querem manter o actual sistema, em que “os eleitores escolhem deputados que têm tal poder que escolhem o Governo que querem e o programa que querem.”

Perante figuras próximas de Cavaco Silva, como os antigos chefe da Casa Civil e assessor de imprensa, Nunes Liberato e Fernando Lima, ou o ex-ministro da Energia Mira Amaral, Luís Montenegro fez a apologia da sua concepção Estado, defendendo uma economia mais competitiva. E insurgiu-se contra o “preconceito” da prestação de serviços pelos privados em sectores como transportes, saúde e educação.

 “Eu não sou um perigoso liberal, não sou mesmo (…) Se o sector público não lhe dá essa resposta, então que dê o privado e eu pago por isso. E se puder pagar menos, hão-de me dizer onde está o ataque à minha ideologia social-democrata, para dar a resposta ao cidadão”, afirmou. Na área fiscal, o líder da bancada do PSD retomou uma ideia lançada no último congresso do partido ao propor a redução de três para dois escalões do IVA e reforçou a necessidade de diminuir a carga fiscal.  

Nas perguntas colocadas por alguns dos convidados foi confrontado com a influência da maçonaria nas decisões dos políticos. Luís Montenegro respondeu que “nunca” a sentiu e que nunca tomou decisões com esse contexto.

No final, era visível a satisfação entre os sociais-democratas que apoiam Montenegro mais ou menos discretamente. Um social-democrata afastado há alguns anos da vida política comentava: “As pessoas sentem um certo ar de mudança”.

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