Labour tenta conter pânico perante sondagens assustadoras
O principal partido da oposição está embrenhado numa guerra interna e arrisca uma derrota pesada a 8 de Junho, deixando os conservadores numa corrida a solo.
A marcação de eleições gerais antecipadas é uma das notícias que o Partido Trabalhista menos queria ouvir. As sondagens apontam para uma derrota estrondosa que minará ainda mais a liderança de Jeremy Corbyn.
Assim que Theresa May anunciou a decisão de propor novas eleições gerais a 8 de Junho, a liderança dos trabalhistas esforçou-se por passar uma mensagem de tranquilidade. “Queremos mostrar como o Labour irá defender o povo do Reino Unido”, declarou Corbyn, confirmando que irá dar instruções à sua bancada para votar a favor da proposta do Governo que é levada esta quarta-feira à Câmara dos Comuns.
O ex-assessor de Corbyn, Matt Zarb-Cousin, garantiu que o partido está a trabalhar nos preparativos para eleições antecipadas desde que May sucedeu a David Cameron, poucos dias depois do referendo que abriu caminho à saída do Reino Unido da União Europeia. Os trabalhistas “estão muito bem preparados”, acrescentou Zarb-Cousin.
A deputada trabalhista Diane Abbott – muito próxima de Corbyn – negou qualquer cenário de pânico entre as hostes do partido, descrevendo um “ambiente calmo”. “Estivemos a planear para esta eventualidade, temos pessoas e planos preparados e acreditamos que o partido como um todo quer que os deputados se unam no apoio à liderança e na luta pela vitória nas eleições”, afirmou Abbott em entrevista à BBC.
Mas as declarações oficiais dos líderes trabalhistas parecem não passar de simples desejos com pouca relação com a realidade. O Labour atravessa uma das fases mais difíceis da sua história recente, com derrotas eleitorais sucessivas e uma liderança pouco popular junto do eleitorado.
A sete semanas das eleições, as sondagens pintam um cenário negro, com os trabalhistas a recolherem pouco mais de 20% das intenções de voto. Caso se confirmem estes cenários, o Labour arrisca obter o pior resultado eleitoral do pós-guerra. De uma forma geral, as casas de apostas já dão a eleição como garantida para os Conservadores de May e atribuem uma probabilidade de um em dez de o Labour conseguir mais lugares em Westminster do que os tories.
Mais do que contra os conservadores, é dentro do próprio partido que a grande batalha da campanha eleitoral se vai travar. Muitos deputados trabalhistas demonstraram reticências em recandidatar-se nos seus círculos eleitorais, temendo uma derrota pesada, e, segundo a imprensa britânica, alguns apelaram mesmo a Corbyn para que reconsidere o apoio parlamentar à decisão de May de marcar as eleições. Uma ex-ministra-sombra descreveu ao Guardian um ambiente de “pânico louco” no partido. Já dois deputados anunciaram que não irão recandidatar-se, Alain Johnson e Tom Blenkinsop, tendo este falado em “diferenças irreconciliáveis” com a liderança trabalhista.
Praticamente desde que Corbyn chegou à liderança do partido, em 2015 com forte apoio dos militantes de base e dos sindicatos, que o Labour vive em ambiente de guerra civil. A vitória do “Brexit” veio aprofundar ainda mais as divergências no partido, com muitos deputados europeístas a criticar a postura ambígua que o círculo de Corbyn adoptou durante a campanha do referendo e a forma como a liderança forçou a bancada parlamentar a votar a favor da invocação do artigo 50.º do Tratado de Lisboa.