Jaques Morelenbaum: “A intenção de todo o músico é que a sua música seja eterna”
Jaques Morelenbaum volta a Portugal com o seu Cello Samba Trio. Em Lisboa, no Tivoli, esta terça-feira às 21h30, tem como convidada Adriana Calcanhotto.
Maestro e filho de maestro, Jaques Morelenbaum está de volta aos palcos portugueses, onde o seu violoncelo já por diversas vezes brilhou, em projectos próprios ou de terceiros. Desta vez vem com o seu Cello Samba Trio, com Lula Galvão no violão e com Márcio Dhiniz na bateria (Rafael Barata não podia, por razões de agenda, e Márcio, agora a viver em Lisboa, pôde). A base dos concertos em Lisboa, Coimbra e Estarreja, é o disco Saudade do Futuro Futuro da Saudade, lançado no Brasil em 2014. Um jogo de palavras que Jaques justifica assim, em entrevista ao PÚBLICO: “A saudade, para mim, refere-se a algo que amamos, que nos é importante. É uma expressão ligada à esperança. Se eu tenho saudades do futuro é porque quero que o futuro seja melhor do que o presente. Por outro lado, é uma brincadeira com esses termos que falam sobre o tempo, já que a música tem o poder da intemporalidade. Na verdade, a intenção de todo o músico é que a sua música seja eterna. A música é uma mensagem que deixamos numa garrafa para ser encontrada por alguém no futuro.”
O disco tem clássicos brasileiros como Tim-tim por tim-tim, Eu vim da Bahia ou Você e eu, num todo que inclui composições de autores como Haroldo Barbosa, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jacob do Bandolim, João Donato, Vinicius de Moraes e Carlos Lyra, Chico Buarque, Lula Galvão, Luizão Paiva. A escolha obedeceu a um só critério: “São as músicas que eu amo, que mexem comigo. Na verdade, este projecto do Cello Samba Trio surge a partir de um disco do João Gilberto gravado em 1973, conhecido como o Álbum Branco brasileiro [por causa da cor da capa], apenas com voz, violão e uma percussão leve. Ouvi incansavelmente esse disco e sempre me encantou a forma como tão poucos elementos preenchiam o espaço sonoro e a expectativa do ouvinte de uma forma tão completa. E pensei: porque não substituir a voz do João Gilberto pelo violoncelo?” E assim nasceu o trio.
Uma "novidade" antiga
O disco Saudades do Futuro Futuro da Saudade tem também dois temas assinados por Jaques Morelenbaum: Maracatuesday e Ar livre. E nestes concertos haverá outro: “É uma ‘novidade’ antiga, uma canção minha composta em 1979 e que ficou na gaveta. Lembrei-me dela e achei que era apropriada para este Cello Samba Trio. Chama-se Nesse trem que eu vou e seguramente estará no próximo disco, que gravaremos este ano, no segundo semestre.”
Além desta novidade, haverá outra, já anunciada (mas só em Lisboa): a presença de Adriana Calcanhotto. Trabalharam juntos, em 2015, num espectáculo sobre temas de Jobim e agora, sabendo que Adriana está temporariamente em Portugal, Jaques quis “repetir essa alegria que é fazer Tom Jobim junto com ela”. Adriana entrará na parte final do espectáculo, cantando Insensatez, Eu sei que vou te amar, Ela é carioca e Corcovado. Uma delas será o encore.
Voltando ao novo disco, ainda em projecto, Jaques Morelenbaum deverá seguir a mesma linha do actual: “Escolher canções do repertório brasileiro que eu mais adoro, citando os grandes mestres com que eu já trabalhei, Tom, Caetano, Gil, Egberto [Gismonti] e outros.” Antes, será lançado na Europa um CD do Cello Samba Trio com Paula Morelenbaum, só com músicas de Jobim (foi gravado ao vivo em Itália); e Jaques acaba de gravar com Zélia Duncan um trabalho, só voz e violoncelo, com músicas eternizadas por Milton Nascimento.
Jaques Morelenbaum e o seu Cello Samba Trio estarão esta terça-feira no Tivoli BBVA, em Lisboa (às 21h30), seguindo depois para Coimbra (Auditório do Conservatório de Música, 21h30) e para Estarreja (Cine Teatro, também às 21h30). A mostrar-nos as suas saudades do futuro.