Díptico de Abdellatif Kechiche em tribunal

Tendo sido um dos nomes cujo regresso à competição na Croisette era esperado para esta edição, o franco-tunisino explica que um litígio com um dos partenaires financeiros do próximo filme faz com que a obra esteja neste momento à espera de decisão judicial.

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Les dés sont jetés e Pray for Jack são os filmes de um díptico bruno simoes castanheira/arquivo

Cannes 2017 para Abtellatif Kechiche? Não. “Vamos chorar no dia 28 de Maio, quando o festival terminar. Mas temos esperança: Cannes 2018”, avança o próprio, em declarações ao diário Nice Matin, que são também um lamento pela frustração de uma equipa a quem parecia prometido o sonho Cannes. Tendo sido um dos nomes cujo regresso à competição na Croisette era esperado para esta edição (depois da Palma de Ouro a A Vida de Adèle, em 2013), o franco-tunisino explica que um litígio com um dos partenaires financeiros do próximo filme faz com que a obra esteja neste momento à espera de decisão judicial. Na verdade, são dois filmes. E é esse o problema.

Adaptando La Blessure, la vraie, livro em que François Bégaudau (o autor do livro que deu origem a A Turma, de Laurent Cantet, outra Palma de Ouro…) contava o Verão dos seus 15 anos, através da história de um rapaz determinado a perder a virgindade, a rodagem foi levando a adaptação “para qualquer coisa de muito mais romanesco”, “uma espécie de saga familiar”, e o resultado são dois filmes independentes, Les dés sont jetés e Pray for Jack. “Um é sobre a busca da luz, o outro sobre a sua perda. E um terceiro volume não está excluído”, precisou Kechiche. Que quer esclarecer que não há litígio, mas uma situação que sai fora do contrato com os financiadores e por isso tem de ser regulada por via judicial. “Comprometi-me perante vários partenaires financeiros, France Télévisions, Canal+, Pathé Films, a fazer um filme. O resultado são dois. Isso sai fora do quadro normal, o que coloca problemas nos contratos. Sobretudo para a France Télévisions, na medida em que se trata de dinheiros públicos.” Para Kechiche é importante, como facilmente se percebe, que o(s) filme(s) chegue ao seu destinatário, o público, limpo de qualquer tensão ou polémica; e sem ambiente malsão. É que ainda está em ressaca de A Vida de Adèle, que entre a Palma de Ouro em Cannes e a estreia comercial, o conto de fadas deu lugar à tortura, com a polémica desencadeada por declarações das suas actrizes sobre o que se tinha (ou não) passado no plateau, sobre um cineasta que teria ido longe demais.

Apesar de ter já uma Palma de Ouro na mão, Kechiche queixa-se da dificuldade de encontrar financiadores para o seu cinema em França. Vêem-no como tipo complicado e fonte de problema. Para dois outros projectos a que se vai dedicar este ano, L’Agneau de Dieu, um road movie, e Sœur Marguerite, filmará em Itália, Portugal e Tunísia.

 

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