Quantos minutos dedica à actividade física? O seu médico vai querer saber
Reuniões em movimento e secretárias reguláveis para poder trabalhar de pé são duas ideias para aumentar a actividade física no emprego.
Que exercício faz no dia-a-dia e quantos minutos por semana dedica a actividades físicas são duas perguntas que o seu médico de família vai passar a fazer-lhe em breve. Nos centros de saúde, os médicos vão ser incentivados a avaliar o nível de actividade física dos seus utentes e este parâmetro passará a constar dos registos a partir de Junho, adianta o director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física (PNPAF), Pedro Teixeira.
Tudo em prol da sensibilização para a importância da actividade física, que ainda deixa muito a desejar por cá. Em Portugal, apenas 15 a 20% dos adultos realiza mais de duas horas e meia de actividade física moderada ou vigorosa por semana, o mínimo recomendando internacionalmente (para as crianças e jovens o ideal é uma hora por dia).
Mas a avaliação do nível de actividade física nos centros de saúde é apenas uma das muitas medidas que vão ser apresentadas nesta terça-feira em Lisboa, no Dia Mundial da Actividade Física. Na cerimónia, que conta com os ministros da Saúde e da Educação, é lançada uma campanha nacional para a sensibilização dos portugueses, com figuras públicas a dar a cara e o corpo ao manifesto - por exemplo, a jornalista Clara de Sousa, que se exercita no ginásio.
Procedimento é voluntário para médicos
Pedro Teixeira, que dirige o mais jovem dos 11 programas prioritários da Direcção-Geral da Saúde (DGS), sublinha, aliás, que os médicos não serão obrigados a fazer estas perguntas, o processo é voluntário, ainda que o registo deste parâmetro passe contar para a sua avaliação.
Os médicos de família podem ainda dar conselhos e fazer recomendações genéricas ou até indicar programas de acompanhamento. Mas vai ser necessário investir mais na formação dos médicos e de outros profissionais de saúde em geral, introduzindo nos currículos das faculdades disciplinas obrigatórias nesta área, diz o director do PNPAF.
Actualmente, já há médicos que têm pós-graduações em medicina desportiva, por exemplo, mas Portugal conta igualmente com profissionais do exercício físico, os fisiologistas do exercício. Serão estes, no futuro, como hoje acontece com os nutricionistas e psicólogos, que estarão nos centros de saúde a fazer aconselhamento adaptado à condição de cada pessoa. Esta é uma profissão ainda não reconhecida nem regulamentada em Portugal, o que urge resolver, até porque é a única área da saúde em que se cobra 23% de IVA nas consultas, nota.
Reuniões em pé e pausas para mexer
Actualmente, não há desculpas para não fazer exercício físico. No dia-a-dia, sugere Pedro Teixeira, há formas simples de combater o “sedentarismo de secretária”. Exemplos: no emprego, as reuniões podem ser feitas em pé ou a andar (os walking meetings "são correntes em Silicon Valley”), as secretárias podem ser reguláveis de maneira a permitir que se trabalhe de pé, pode haver incentivos a pausas “activas” (cinco minutos a cada hora para que os funcionários se mexam), elenca.
Fulcral também é, entre a casa e o trabalho, promover o “transporte activo”. As pessoas podem ir a pé ou de bicicleta para o emprego ou para a escola, e usar prioritariamente os transportes públicos. O mais complicado e demorado vai ser retirar os carros das cidades, admite o responsável. Copenhaga, que já tem mais bicicletas do que carros, é um exemplo a seguir, mas este é “um trabalho com 20 anos”, lembra. Muito importante, a este nível, será a aposta no sistema partilhado de bicicletas, que já avançou em Cascais e noutras cidades do país e está a ser testado em Lisboa para arrancar no final do Verão. Serão três mil bicicletas, e muitas delas são eléctricas.
Na cerimónia desta terça-feira, que conta ainda com a presença da responsáveis da UEFA e da Federação Portuguesa de Futebol, vai ser ser assinado um protocolo para a disseminação do projecto EuroFIT (em que grupos de adeptos são encorajados a participar em programas de actividade física com o seu clube, que disponibiliza instalações e treinadores, por exemplo, das camadas jovens). Também é importante criar formas de reconhecimento público (prémios, selos, apoios financeiros) para as autarquias e as escolas como melhores indicadores em ambientes promotores de actividade física, propõe o director do programa da DGS.
Um “passo de gigante”, conclui, vai ser a criação de uma comissão intersectorial com seis secretarias de Estado (Saúde, Educação, Ciência, Desporto, Integração de Pessoas com Deficiência e Emprego). Um grupo de trabalho criado por despacho e que, até ao final deste ano, fica incumbido de apresentar um plano de acção para a promoção da actividade física com metas calendarizadas.