Daesh ataca igrejas coptas para fomentar ódio religioso no Egipto
O Presidente egípcio decretou três meses de estado de emergência após atentados suicidas que mataram pelo menos 44 pessoas no domingo de Ramos - foram os mais sangrentos em muitos anos, agravam sentimento de insegurança daquela minoria cristã.
Dois ataques reivindicados pelo Daesh atingiram igrejas cristãs coptas no Egipto num dos dias mais sagrados do calendário cristão, o domingo de Ramos. Mataram pelo menos 44 pessoas, no que é visto como mais um passo dos extremistas para fomentar o ódio religioso no país.
O Presidente, Abdul al-Sisi, anunciou três meses de estado de emergência em resposta. "Vão ser tomados uma série de passos, dos quais mais importante é o anúncio de um estado de emergência durante três meses depois de passos legais e constitucionais". Durante o regime de Hosni Mubarak o estado de emergência foi praticamente o estado normal - terminou em 2012, já depois do derrube de Mubarak, após 31 anos.
O primeiro ataque ocorreu na igreja de Tanta, 90 quilómetros a norte do Cairo, no Delta do Nilo. Uma explosão junto ao altar, em plena missa, matou pelo menos 27 pessoas e deixou 71 feridas, incluindo sacerdotes e membros do coro. Pensava-se que tinha sido um engenho explosivo, mas na sua reivindicação, o Daesh disse ter-se tratado de um bombista suicida.
“Houve uma enorme explosão, e tudo ficou cheio de fogo e fumo”, descreveu uma testemunha, Vivian Farreg, à agência Reuters. Havia mortos e feridos. “Os ferimentos eram muito graves.”
Horas mais tarde, um outro suicida tentou entrar na catedral de Alexandria, a sede do papado copta. Fez-se explodir quando foi impedido pela polícia de entrar, matando 17 pessoas, incluindo quatro polícias, e deixando 35 feridos.
As lojas em volta ficaram destruídas, contou uma testemunha, Fadi Sami, que tinha deixado a catedral logo após o final da missa, cerca de 20 minutos antes da explosão. “Voltei e vi tudo coberto de fumo. As lojas à volta estavam todas destruídas, havia corpos por todo o lado”, disse. “Se tivesse lá ficado mais 20 minutos, teria deixado de existir neste mundo.”
O papa copta, Tawadros II, estava na catedral na altura da explosão, mas escapou ileso. Mais tarde, declarou que “estas acções não vão destruir a unidade do povo egípcio face ao terrorismo”.
Daesh muda de tática
“É alarmante ver um grupo específico ser um alvo, o que vai afectar a comunidade copta e muitos egípcios em geral”, disse o investigador do Instituto Tahrir de Política do Médio Oriente Timothy Kaldas à emissora Al-Jazira.
Depois de passarem os últimos anos concentrados em atacar forças de segurança no Sinai, numa guerra de baixa intensidade, os grupos jihadistas, incluindo os filiados no Daesh, parecem estar a mudar de táctica: têm atingido mais civis cristãos e saído mais da península para o Egipto continental. O que é um potencial ponto de viragem de uma inssurreição numa província para um possível conflito sectário mais alargado.
Em Fevereiro, o Daesh ameaçou lançar mais ataques contra coptas, que são cerca de 10% dos 82 milhões de egípcios. H+a muito que esta minoria tem sido alvo de ataques, por exemplo de vizinhos que queimavam as suas casas em zonas rurais pobres.
Mas a emergência do Daesh no Iraque e Síria e a sua perseguição brutal a outras religiões (ou mesmo a muçulmanos vistos como "apóstatas") contribuiu para um sentimento de um perigo muito maior entre os cristãos coptas do Egipto.
No domingo de Ramos celebra-se a “entrada triunfal” de Jesus em Jerusalém, dando início à Semana Santa que culmina uma semana depois com a sua ressurreição, na Páscoa.
As autoridades egípcias aumentaram a segurança em alguns locais durante a Semana Santa, mas muitos estavam cépticos em relação a estas medidas. À saída da catedral, conta à CNN o blogger Maged Butter, aos gritos de quem procurava familiares no caos a seguir à explosão juntavam-se gritos de mulheres contra a polícia, perguntando por que não protegiam os cristãos.