Os rapazes do bairro, parte II

Estreou no Netflix a segunda dose de episódios de The Get Down, a produção televisiva de Baz Luhrmann sobre os primórdios do hip-hop.

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É uma ficção, mas talvez tenha acontecido exactamente assim, talvez não. Um prédio a ser demolido ao som da fanfarra inicial de Star Wars, em que essa música orquestral de John Williams é o ponto de partida para uma festa no meio das ruínas decoradas por graffiti. A tal festa que poderá, ou não, ter acontecido, não foi numa galáxia distante nem foi assim há tanto tempo. Foi no South Bronx, em Nova Iorque, e nos anos 1970, quando tudo estava a acontecer. Foi aqui que, há uns meses, The Get Down nos deixou, no início da cavalgada de Zeke, Shaolin Fantastic e dos “Get Down Brothers” nos primórdios do quem agora conhecemos como hip-hop. Agora é um género de estúdio, de grandes arenas e de milhões. Antes, era uma coisa de garagem, de pequenos clubes e de prédios em ruínas.

Depois dos seis primeiros episódios da primeira temporada terem ficado disponíveis em Agosto do ano passado, chegou na última sexta-feira ao Netflix a segunda dose da primeira temporada de The Get Down, mais cinco episódios desta série produzida pelo australiano Baz Luhrmann (não está garantido que haja mais). Aqui contam-se as origens de um dos géneros de música mais populares do planeta através da história de cinco miúdos de um bairro degradado, um DJ e quatro MCs a fazer na televisão (em streaming, para ser rigoroso) o que homens como Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa fizeram naquele final de década nessa cidade fervilhante e caótica chamada Nova Iorque.

Como tudo o que fez Baz Lurhmann, desde Strictly Ballroom a Moulin Rouge! ou Austrália, The Get Down, tida como uma das mais caras séries de sempre (não se sabem números exactos), é um excesso sensorial – ou não tivesse a direcção artística de Catherine Martin, mulher e colaboradora de Luhrmann – e tem uma estrutura narrativa semelhante a quase todos os filmes do australiano. Tem um narrador que é o protagonista e que conta tudo em retrospectiva – nesta segunda parte tem dois – e vai construindo sobre estas memórias ficcionadas um universo real em pleno reinado do disco sound, dos prédios degradados, dos graffiti, do breakdance e dos blackouts. Mas esta também é uma história de amores cruzados, entre Zeke, um dos MC dos “Get Down Brothers”, e Mylene, a filha de um pregador que passa de solista de coro a rainha do disco.

The Get Down é uma história que também tem adultos – políticos, empresários musicais, pregadores e criminosos. Mas é, em última análise, uma série sobre a infância e sobre miúdos de bairro, em que os adultos são protagonistas acidentais. “Esta série não é uma simples história das raízes do hip-hop ou o fim do disco”, diz Luhrmann. “O grande protagonista é a infância – esse impulso autêntico de agir, as alegrias simples e as descobertas acidentais que fizeram com que o hip-hop existisse.”

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