O mais difícil é acertar no passo seguinte
O que quis Trump ao punir Assad? Intervir de forma decisiva na guerra síria, ou apenas mostrar força e ficar por aqui?
Pela primeira vez desde que foi eleito, Donald Trump premiu um botão bélico. E foi genericamente aplaudido ou, no mínimo, “compreendido”. Reino Unido, Canadá, França, Austrália, Israel, Turquia, Arábia Saudita, deram-lhe total apoio, enquanto países como Portugal, Espanha ou Itália adoptaram uma posição menos entusiástica mas em geral compreensiva para com a decisão do presidente dos EUA.
O que fez Trump? Decidiu um ataque com 59 mísseis Tomahawk contra a base militar síria de onde terão partido aviões que bombardearam com armas químicas uma cidade na província de Idlib. Não é a primeira vez que o regime de Bashar Al-Assad recorre a armas químicas no sangrento conflito que mantém o seu país a ferro e fogo há anos e sempre saiu impune, apesar dos protestos. O que Trump agora fez, com raras vozes a condená-lo (Damasco, Moscovo e o Irão), foi mostrar que esse tipo de actos não pode ficar impune. Não o fez só por causa da Síria, naturalmente, fê-lo para mostrar que tem um poder retaliatório que usará quando achar oportuno, e isso visa igualmente o Irão ou a Coreia do Norte. Assad, que está habituado a ultrapassar limites (veja-se o caso da tão martirizada Alepo), não esperava tal ataque. E por isso Damasco acusou os EUA de um comportamento “irresponsável e insensato”, enquanto Moscovo, aliado de Assad na contenda síria, falou em “acto de agressão.” Ora Trump, que na frente interna continua a lidar com dificuldades, somou com este seu acto pontos na arena internacional. Com que objectivo? Intervir de forma decisiva na guerra síria, facilitando a queda de Assad? Ou apenas mostrar força e ficar por aqui?
É bom recordar que, em 2013, quando a administração Obama ponderou a hipótese de punir Assad pelo uso de armas químicas, mais de dois terços dos americanos expressaram (em inquéritos públicos) a sua oposição a tal acto. Os Estados Unidos gostariam de resolver o problema sírio, pelo menos em teoria, mas sem nele se envolverem directamente. Trump carregou no botão, é certo, mas isso é aparentemente o mais “fácil”. O difícil é acertar no passo seguinte e esse terá de envolver uma solução para a Síria que não repita erros do passado e que impeça um pós-guerra calamitoso e igualmente dilacerante para o povo sírio.
Não é tranquilizador que seja Trump a ter na mão as rédeas de tão intrincado problema, mas talvez deste “calafrio” momentâneo nasça uma solução política que envolva a Rússia e estanque a sangria síria.