Um ano de Convento São Francisco em “regime experimental”
Equipamento cultural abriu portas em Abril de 2016. Autarquia diz que período foi um “sucesso”.
Nem um eucalipto, nem uma locomotiva da cultura. O Convento São Francisco (CSF) abriu ao público há um ano e a autarquia considera que o equipamento superou as expectativas e fala em “sucesso”. Mas entre os agentes culturais da cidade e a oposição camarária, há quem não tenha a mesma perspectiva.
Na conferência de imprensa de balanço de um ano de actividade, o presidente do município, Manuel Machado, sublinhou que o convento está a funcionar em “regime experimental” e que “o trabalho desenvolvido não pode ser desligado do facto de ter decorrido paralelamente à execução de trabalhos finais de obra”. A Igreja só começou a funcionar em Outubro e o estacionamento, com capacidade para mais de 500 viaturas, foi inaugurado nesta sexta-feira.
O espaço que custou 42 milhões de euros e tem capacidade para receber 5 mil pessoas em simultâneo foi visitado por 37 mil pessoas no âmbito da sua programação cultural desde que abriu as portas. Já na área de congressos e eventos corporativos, foram 19 mil as pessoas que deram uso ao São Francisco.
Na apresentação da primeira temporada de programação, em Abril de 2016, Manuel Machado afirmou que o Convento queria ombrear com o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e com a Casa Serralves, no Porto. Num ano, passaram pela mais recente sala de espectáculos de Coimbra nomes como Benjamin Clementine, Michael Nyman, Rodrigo Leão ou Tindersticks e o presidente da autarquia menciona parcerias com a associação cultural Marionet, com O Teatrão e com o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) como exemplos “da forma como o Convento S. Francisco pode dar mais escala a eventos que antes não contavam com esta infraestrutura”.
Mas, pelo menos em termos de atracção de público, os números mostram que há ainda caminho a percorrer. Serralves recebeu 680 mil visitantes ao longo de 2016, sendo que destes, 160 mil foram à casa durante o Serralves em Festa. Os números do Convento também não se aproximam do CCB. Os últimos dados anuais disponíveis são de 2015, ano período em que estrutura recebeu 159 mil espectadores. Só os três dias dos Dias da Música de 2016 levaram a Belém mais de 22 mil pessoas.
Mesmo um equipamento com uma escala menor, como é o TAGV, em Coimbra, teve mais de 61 mil espectadores na temporada passada. Durante esse período, o Gil Vicente esteve fechado três meses para obras.
O modelo de gestão do Convento tem sido motivo recorrente de debate político. Actualmente, e até ao final deste mandato autárquico, o equipamento é gerido pelo antigo director geral das Artes, João Aidos, contratado por ajuste directo. Machado volta a referir que a criação de uma empresa municipal é a “ideia que está mais consolidada”, mas é uma hipótese “ainda em avaliação”.
Ouvido pela Agência Lusa, o vereador do PSD, João Paulo Barbosa de Melo reconhece a importância do convento, mas fala de um ano de utilização “marcado por amadorismo e pela incapacidade da atual Câmara em construir um modelo de gestão robusto, independente e dinâmico”. No mesmo sentido, Francisco Queirós, da CDU, entende que o caminho a seguir pelo equipamento deve ser definido, mencionando uma “decisão urgente”. Já o vereador do movimento Cidadãos por Coimbra, José Augusto Ferreira da Silva, faz “um balanço inquietante”, com referência à indefinição administrativa, mas também a “um gritante e provinciano amadorismo na imagem e comunicação”. O site do Convento está disponível há pouco mais de duas semanas.
Se a câmara fala numa “programação variada e para todos os gosto”, vários agentes culturais da cidade citados pela Lusa consideram que lhe falta coerência e identidade, para além de articulação com outras estruturas.
Há espaços do complexo que vão ser concessionados a privados. O restaurante, o bar do foyer e o café concerto. Sobre estes estabelecimentos, o autarca disse em Julho ao PÚBLICO que os cadernos de encargos para o concurso público estariam a ser preparados e que, por volta de Outubro de 2016 a concessão estaria “em condições de se fazer”. Agora Machado diz que “há aperfeiçoamentos na obra” que têm que ser discutidos com os arquitectos autores do projecto, como por exemplo, casas de banho autónomas que sirvam o café concerto, sem no entanto adiantar uma previsão de entrada em funcionamento.