A boa estrela insular de Elida Almeida

A apresentação em Lisboa de Djunta Kudjer, da jovem cantora cabo-verdiana Elida Almeida, confirmou o seu muito recomendável talento. Para ouvir e reouvir.

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Elida Almeida no palco do Tivoli BBVA NUNO FERREIRA SANTOS
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Elida Almeida no palco do Tivoli BBVA NUNO FERREIRA SANTOS

Não é ainda o disco definitivo, esse só surgirá mais para o final do ano, mas o que nos foi dado ouvir, primeiro no EP Djunta Kudjer e depois no palco do Tivoli BBVA, em Lisboa, na noite de 6 de Abril, confirma o que já se adivinhava do seu disco de estreia, Ora Doci Ora Margos: Elida Almeida, nos seus 24 anos, é uma voz claramente a ter em conta no universo da música de Cabo Verde. Uma voz e uma presença: ela move-se em palco com uma graciosidade natural, um à-vontade desarmante, como se já tivesse nascido para ali estar. E a voz cresceu, de que maneira! De 2014, ano em que foi gravado e lançado o seu primeiro disco, até agora, adensaram-se as cambiantes tonais numa paleta onde sobressaem a versatilidade dos meios-tons e a doçura dos graves. Sem que isto sirva de rigorosa comparação, é como se a brasileira Virgínia Rodrigues (que Caetano Veloso em boa hora apadrinhou) tivesse recuado uns anos e trocado a Bahia por Cabo Verde.

Em palco, aliás, o seu repertório (já de si inspirado) ganha uma vitalidade notável, para o que muito contribui, para lá de vocalizações mais soltas, o trabalho dos músicos que a acompanham: Hernani Almeida (guitarra e direcção musical), Diego Gomes (teclados), Nelly Cruz (uma mulher no baixo) e Magik Santiago (bateria). Foi com eles que arrancou o espectáculo, na batida de Nhu Santiagu, antes mesmo de ela entrar em palco. E desde logo ficou claro que o trabalho de Elida (leia-se Élida, como se diz em Cabo Verde) assenta menos na tradicional estrutura mornas-e-coladeiras e mais em ritmos como o batuco, a tabanka e o funaná, misturando (sem se afastar da paisagem cabo-verdiana) sonoridades e ritmos dos continentes africano ou latino-americano, mas dos lugares onde mais se faz sentir a influência cultural negra, como Cuba ou Salvador da Bahia.

Mar sagrado, sendo estruturalmente uma morna, é um bom exemplo dessa mistura. Ela cantou-o com alma, entre dois temas do novo disco, a balada Di mi ku bo e o dilacerante Forti dor. Com o mesmo nome (Di mi ku bo) mas vindo do disco anterior, surgiu depois um batuco, onde ela dançou com vigor e elegância numa estonteante movimentação de quadris, depois de se livrar dos sapatos de salto alto. Seguiram-se Txico branku, Nta consigui (tema-chave do disco anterior), Discriminason (do novo disco, numa crítica aos políticos) e Tomam el (espécie de gospel funk), a manter alta a temperatura. Mais uma canção nova, Era mintira, e depois ouviram-se Joana (que contou com coro da plateia) e Djam nkrel pa mi (com um bom duelo de guitarra eléctrica e voz), terminando oficialmente o espectáculo, num apelo à dança, com Txuputin, Sofa e Bersu d’oru.

O regresso ao palco, requerido a aplausos da plateia (que estava praticamente preenchida), fez-se com Txika e, de novo, Bersu d’oru, ambas do novo disco. No final, Elida Almeida estava feliz e o público também. As muitas pessoas que a aguardaram para assinar o disco eram prova disso. Este é mais um nome a fixar e a seguir com atenção, na nova constelação da música de Cabo Verde.

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