Ataque no metro de São Petersburgo lembra aos russos o que é o terrorismo
Explosão matou 11 pessoas e deixou mais de 40 feridos. É o primeiro atentado em solo russo desde que foi iniciada a intervenção na guerra síria.
É um filme que os russos conhecem demasiado bem. Uma bomba explode numa carruagem de metro, deixando mortos e feridos e colocando o país em alerta máximo. Foi assim em várias ocasiões durante as últimas duas décadas e voltou a ser assim esta segunda-feira, quando uma explosão numa carruagem no metro de São Petersburgo matou 11 pessoas e feriu mais de 40.
À explosão seguiram-se momentos de pânico e confusão, com várias pessoas a tentarem abandonar à pressa as gigantescas estações de metro da segunda maior cidade russa. Em poucos minutos, foram retiradas 1200 pessoas do metro na área afectada. Pelo menos sete pessoas morreram imediatamente com o impacto da explosão, quando seguiam a bordo de um comboio entre as estações da Praça Sennaia e o Instituto Tecnológico. As restantes não resistiram aos ferimentos e morreram a caminho do hospital, segundo a ministra da Saúde, Veronika Skvortsova. O balanço poderia ter sido bem mais pesado. Um segundo explosivo foi encontrado noutra estação, mas a polícia conseguiu desactivá-lo.
A Comissão de Investigação, uma agência poderosa que responde directamente ao Presidente, está a tratar a explosão como um “acto de terrorismo” e, segundo a agência Interfax, foram emitidos mandados de captura para dois indivíduos, suspeitos de terem deixado as duas bombas no metro.
Não são conhecidos muitos mais pormenores. Alguns canais de televisão divulgaram imagens capturadas pelas câmaras de vigilância em que aparece um dos suspeitos, mas não houve qualquer confirmação oficial da sua veracidade.
A utilização de explosivos artesanais e a tentativa de realizar explosões em dois locais em simultâneo sugerem um certo nível de preparação e planeamento, ausentes de outro tipo de atentados que têm sido feitos na Europa, o último dos quais em Londres. A suspeita principal recai num ataque inspirado pelo Daesh – embora ainda não tenha havido qualquer reivindicação.
Desde que a Rússia iniciou uma intervenção militar directa no conflito sírio – onde apoia as forças leais ao Presidente, Bashar al-Assad – que as suas cidades se tornaram num objectivo prioritário do Daesh. Para além disso, o Cáucaso, onde há uma tradição histórica de radicalismo islamista, registou nos últimos anos um forte êxodo de potenciais militantes para a Síria e para o Iraque, com o objectivo de se juntarem às fileiras do Daesh. A BBC diz que cerca de sete mil russos terão viajado para a Síria nos últimos anos para se juntarem a vários grupos extremistas.
Até agora, a Rússia tinha conseguido passar largamente incólume aos atentados inspirados pelo Daesh. A única excepção nem sequer aconteceu em solo russo. Em Outubro de 2015, um mês depois de a Rússia ter iniciado os bombardeamentos na Síria, um avião comercial russo com 224 pessoas a bordo foi derrubado quando sobrevoava o Egipto por militantes do ramo do Daesh na Península do Sinai.
Uma outra possibilidade é que o ataque no metro tenha sido executado por um grupo de nacionalistas tchetchenos. Esta hipótese representaria um regresso ao passado recente quando a insurreição tchetchena aterrorizava o dia-a-dia dos russos, como aconteceu com as explosões em 1999 de vários blocos de apartamentos em Moscovo, em que morreram 300 pessoas, ou o ataque à escola primária de Beslan, que causou a morte a mais de 300 crianças. O jornalista especializado em segurança da BBC, Frank Gardner, lembra ainda mais uma hipótese: “o submundo criminoso”, embora admita “ser menos provável”.
A hipótese de se tratar de um atentado terrorista inspirado pelo Daesh irá dar força à tese defendida pelo Presidente russo, Vladimir Putin, de que Moscovo, os EUA e a União Europeia se devem unir na luta contra o terrorismo islamista – um objectivo partilhado pelo Presidente norte-americano. O ataque representa ainda uma oportunidade para apertar as leis que regulam as manifestações e ajuntamentos públicos, numa altura em que os protestos contra a classe política russa subiam de tom.