As notícias falsas até podem agradar-nos, mas continuam a ser falsas
Mais: o Linkedin alega que não tem um problema de fake news, os alertas de “história contestada” do Facebook são detectados e alunos do 3.º ciclo são treinados para serem cépticos.
Fake news que nos fazem sentir bem
A seguir ao atentado terrorista de Londres, uma imagem de um letreiro do metro tornou-se viral: “Lembramos educadamente aos terroristas de que ISTO É LONDRES e, façam o que fizerem, vamos continuar a beber chá e a seguir em frente. Obrigado.”
Isto é falso, obra do Photoshop (como são muitas das imagens deste tipo de letreiros que se vêem no Twitter), mas James Vincent, do The Verge, diz que há pessoas, incluindo políticos e jornalistas, a defender que isso não importa lá muito: “A apresentadora Kay Burley, da Sky News, tweetou o letreiro e de seguida escreveu: ‘Para que não haja dúvidas, este letreiro foi produzido num computador, mas ainda assim é um sentimento partilhado por milhões de pessoas.’ O apresentador Nick Robinson, da BBC Radio 4, leu o letreiro em directo, mas mais tarde escreveu no Twitter: ‘Bem, todos os dias aprendemos alguma coisa. Aquele letreiro do metro encantador pode ser ‘falso’, mas o sentimento não é falso para os milhares de pessoas que o partilham’… A ideia de que os sentimentos são mais importantes do que a veracidade parece ter-se generalizado, com imensa gente – repito, incluindo jornalistas – que diz que ‘verificar os factos’ do letreiro é ‘não perceber a questão essencial’.”
Nos comentários da publicação no The Verge, os leitores debateram sobre se as fake news são a mesma coisa que um meme e se um meme é o mesmo que propaganda; alguns argumentaram que o letreiro não podia ser fake news porque não declarava um facto e não era mal-intencionado. Uma ideia: eu não classificaria este (falso) letreiro como apolítico; ele é positivo, mas carrega uma mensagem mais alargada de apoio ao multiculturalismo de Londres – de certa forma semelhante a este letreiro em Nova Iorque depois da eleição de Trump – e é essencialmente o tipo de sentimento que Donald Trump Jr. atacava no Twitter, no dia do atentado.
Os alertas de fake news do Facebook são detectados
O Facebook anunciou em Dezembro que ia associar-se a organizações que verificam factos para parar as fake news; três meses depois, os utilizadores começaram a detectar o sistema em acção ao tentarem partilhar uma história chamada O Comércio de Escravos Irlandês – Os Escravos Esquecidos pelo Tempo, publicada por um blogue chamado Newport Buzz. Em paralelo, a AP também mostrou que a história não era verdadeira. Elementos do Guardian tentaram partilhar a história em várias regiões, conta Elle Hunt: “As tentativas do Guardian de publicar a história em São Francisco activaram a ferramenta, mas isto não aconteceu em Sydney e em Londres”. Nikhil Sonnad, do Quartz, relata os muitos passos que alguém tem de seguir se quiser publicar a história (numa zona onde que a funcionalidade de verificação de factos esteja activada).
O LinkedIn não tem problemas com fake news?
“As pessoas vêm ao LinkedIn por uma razão. Seja o que for que estão a fazer no mundo profissional, é sobre isso que querem falar. Só isso exclui grande parte do que poderia constituir fake news. Este não é o lugar para publicar teorias da conspiração sobre uma cadeia de pizzarias”, contou ao Engadget o director do LinkedIn, Dan Roth, enquanto promovia a nova secção de “Trending Topics” da empresa. Bryan Menegus, da Gizmondo, discorda: “Uma busca rápida no LinkedIn revela um número considerável de publicações sobre as supostas inclinações para o tráfico de crianças de pizzarias em Washington, DC.… As fake news não têm sido um grande problema para o LinkedIn, por isso uma iniciativa para resolver este assunto complicado através de uma nova funcionalidade é, na melhor das hipóteses, ingénua – porque o LinkedIn não é, regra geral, um destino onde a maior parte das pessoas vai para consultar notícias.”
Dr. Fraude
48 de 360 jornais académicos aceitaram uma candidatura falsa de um editor falso, descobriu uma equipa da Universidade de Breslávia, que publicou os seus resultados na revista Nature. Alan Burdick, da The New Yorker, voltou a escrever sobre os “jornais académicos predatórios” que são viabilizados com a ascensão da Internet. Jeffrey Beall, professor associado e bibliotecário da Universidade do Colorado, em Denver, tentou compilar uma lista destes publicações spam desde 2011 até agora. “No final de Janeiro, ele encerrou definitivamente o site, por motivos que preferiu não explicar. ‘Havia pressão da minha universidade para parar’, afirmou. “As universidades não gostam de coisas negativas; gostam de pessoas felizes e sorridentes, e não de muita política. Tinha algum medo de perder o emprego’.” (Anteriormente.)
Saltar de um telhado e aterrar num trampolim
O New York Times escreveu um perfil sobre uma escola do 3.º ciclo em Brooklyn que está a ensinar aos alunos literacia para as notícias relativas a conteúdos na Internet. “Vocês vivem num mundo diferente daquele em que nós crescemos”, disse uma professora aos seus alunos do sétimo ano. O currículo inspirou-se no programa de literacia para as notícias da Universidade de Stony Brook. Contudo, “introduzir este tema ao nível da universidade é tarde de mais”, contou a James Barron, do Times, o reitor da escola de jornalismo de Stony Brook, Howard Schneider. “Disse que a altura ideal é no 3º ciclo, quando os alunos já sabem usar a Internet mas ainda não estão imersos nas redes sociais.”
Tradução de Rita Monteiro