De bicicleta, as feministas paquistanesas reivindicam lugar no espaço público

Dezenas de mulheres participaram em corridas em várias cidades do Paquistão em nome de mais liberdade.

Fotogaleria
Reuters/FAISAL MAHMOOD
Fotogaleria
Reuters/FAISAL MAHMOOD
Fotogaleria
Reuters/FAISAL MAHMOOD
Fotogaleria
Reuters/FAISAL MAHMOOD

Dezenas de mulheres no Paquistão participaram num protesto em bicicleta neste domingo, em várias cidades do país. As mulheres, sobretudo jovens na casa dos 20 anos de idade, queriam chamar a atenção para o pouco espaço que ocupam nas ruas, desafiando assim o domínio masculino.

"A nossa estratégia é simplesmente ser visível em espaços públicos", explica Meher Bano da organização Girls at Dhabas, um grupo feminista que organizou os protestos depois de uma mulher de Lahore ter sido empurrada da bicicleta por um grupo de homens, há um ano, por não responder aos piropos que aqueles lhe lançavam.

O desfile de bicicletas foi um dos muitos eventos organizados pelas Girls at Dhabas, nos últimos anos. O nome da associação remete para os restaurantes paquistaneses (dhabas), numa ligação clara à urgência que as mulheres têm de estar no espaço público com os mesmos direitos que os homens; e também com o objectivo de aumentar a consciencialização para este problema.

Os membros desta associação dizem que são a nova geração de feministas paquistanesas, determinadas a construir sobre o progresso feito pelas suas antecessoras. "O movimento das mulheres é tão antigo quanto o Paquistão, mas não é algo que realmente seja falado", esclarece Bano.

Mais de 60% dos quase 200 milhões de paquistaneses têm menos de 30 anos, mas as mulheres jovens daquele país muçulmano continuam a enfrentar barreiras de acesso ao emprego e muitas vezes sentem-se "desconfortáveis" por ir a áreas públicas onde a presença masculina é preponderante, continua a dirigente feminista. "Faz parte de uma narrativa muito maior que leva ao assédio e à violência", lamenta.

As diferenças entre homens e mulheres continuam a ser gritantes num país onde ainda se matam as mulheres em nome da honra familiar, como aconteceu em Julho com Qandeel Baloch, uma celebridade de 20 anos, conhecida nas redes sociais pelos seus posts, e que foi morta pelo irmão por alegadamente desonrar a família. A sua morte chocou o país e transformou esta jovem num ícone feminista.

Embora exista um movimento liberal pequeno, as mulheres conseguem fazer chegar a sua voz a vários meios de comunicação e às redes sociais. No entanto, muiitas enfrentam o abuso e são acusadas de estarem a ser influenciadas por ideais ocidentais, em vez das muçulmanas.

Para terminar o protesto de bicicleta, em Islamabad, várias jovens partilharam histórias de assédio, mas também falaram sobre a necessidade de lutar contra o conservadorismo crescente nas ruas do Paquistão, dizendo que há menos mulheres em público hoje do que há 20 anos. "Estamos a deixar esse espaço desaparecer e a sociedade está a ficar mais pequena de espírito", disse uma delas.