Jornalistas da RTP exigem demissão de Estrela Serrano do Conselho de Opinião
Num abaixo-assinado que tem já 100 assinaturas, jornalistas consideram que texto de Serrano é “ofensivo e insultuoso” para profissionais da informação da RTP.
Uma centena de jornalistas da RTP assinaram um documento a exigir a demissão de Estrela Serrano do Conselho de Opinião da RTP, depois de esta ter sugerido nesta sexta-feira que a equipa de jornalistas agredida junto a uma escola em Chelas, Lisboa, na quinta-feira, não se deveria ter deslocado ao local para fazer a cobertura jornalística de uma eventual violação de um aluno de 12 anos a um outro de nove anos. Conclui mesmo que “como seria de esperar [a equipa] acabou agredida”.
Um repórter de imagem da RTP foi violentamente agredido na tarde quinta-feira junto a uma escola em Chelas por familiares de um aluno que alegadamente terá violado um colega levou pontos no couro cabeludo, tem um pulso partido e várias escoriações na cabeça e tronco.
Os jornalistas que assinaram o documento contra Serrano, que ainda está aberto a novas assinaturas, consideram que o texto da membro do Conselho de Opinião é “ofensivo, insultuoso e que manifesta a total descrença nas capacidades intelectuais, éticas e deontológicas dos profissionais da informação da RTP”.
“Convém lembrar que nada disto estaria envolvido em grande polémica não fosse Estrela Serrano membro do Conselho de Opinião da RTP. Por isso, seria de esperar, dados os anos de jornalismo que a idade lhe contempla, que Estrela Serrano soubesse que os jornalistas da RTP são formados na área, conhecedores da prática ética, deontológica e do direito da comunicação. Aliás, muito nos espanta que Estrela Serrano, docente de Jornalismo, não tenha disso conhecimento. Como tal, é profundamente inaceitável que um membro do Conselho de Opinião, numa publicação pública, emita informações falsas”, diz o texto assinado pelos jornalistas, entre os quais se encontram os principais repórteres da estação pública, nomeadamente uma das caras da estação — José Rodrigues dos Santos.
O texto contesta ponto por ponto a opinião de Estrela Serrano, em particular o facto de a antiga vogal da Autoridade Reguladora para a Comunicação Social dizer que os jornalistas se deslocaram ao local para filmar crianças envolvidas numa alegada agressão sexual.
“Nunca, repetimos, nunca esteve em causa filmar qualquer criança. Não é hábito da RTP. Não é prática da RTP. Não é rotina profissional da RTP. Entendemos o carácter paternalista do discurso da Estrela Serrano mas nenhum dos profissionais se estreou ontem no ofício. São jornalistas e redactores de grande qualidade, conhecimento e valor. Que fazem jornalismo de rua, de intervenção, de manifestações. Que sabem o que são petardos a voar pelos ares e pedras a cortar os céus. Que sabem escrever bem. Que contam estórias todos os dias”, dizem os jornalistas da RTP.
Os jornalistas acrescentam que Estrela Serrano “não tem qualquer condição para se manter, digna e coerentemente, membro do Conselho de Opinião da RTP.”
E lembram o que chamam “a cereja em cima do bolo", que "não deixa de ser aquele murro no estômago que dói mais porque foi dado pelo camarada de ofício”. E a cereja é a última frase de Serrano no seu texto: "Como seria de esperar, acabou agredida."
“Vá lá! Se a jornalista fosse de mini-saia, como seria de esperar, acabaria apalpada. Para Estrela Serrano, estavam mesmo a pedi-las. E quem pede, agora, somos nós. A demissão”, concluem.
Também nesta sexta-feira a direcção de Informação da RTP apresentou uma queixa-crime e o Conselho de Redacção lamentou as palavras de Estrela Serrano, solidarizando-se com os colegas agredidos e pedindo também a sua demissão do Conselho de Opinião.