Descoberto um tiranossauro que tinha uma máscara de escamas

Espécie que viveu há 70 milhões de anos estava munida de um sistema sensitivo no focinho.

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Reconstituição da cobertura do focinho do Daspletosaurus horneri baseada na textura dos ossos Dino Pulerà

Uma nova espécie de dinossauro, um tiranossauro com uma forma invulgar de evolução, foi descoberta por uma equipa internacional de cientistas, segundo o artigo científico no qual é descrito esta quinta-feira na revista Scientific Reports.

Liderado por uma equipa norte-americana, o estudo indica que a nova espécie, denominada Daspletosaurus horneri, encontrada no Montana, Estados Unidos, evoluiu directamente de um seu parente geologicamente mais velho – o Daspletosaurus torosus –, através de uma forma de evolução rara chamada “anagénese” e que consiste numa espécie se transformar de forma gradual noutra nova, explica um comunicado do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Nova Orleães (EUA), envolvido no trabalho.

“O Daspletosaurus horneri era o mais novo e último de uma linhagem que viveu depois do seu parente mais próximo, o Daspletosaurus torosus, que foi descoberto em Alberta, no Canadá”, explicou Thomas Carr, do Departamento de Biologia do Colégio Carthage, em Kenosha (Wisconsin, EUA), num comunicado conjunto da equipa. “A relação evolutiva próxima entre as duas espécies, tendo em conta a sua proximidade geográfica e ocorrência sequencial, sugere que em conjunto representam uma única linhagem que sofreu alterações ao longo do tempo geológico, durante o qual o Daspletosaurus torosus se transformou no Daspletosaurus horneri.”

Esta espécie viveu há cerca de 75 milhões de anos. Tinha cerca de nove metros de comprimento, um focinho largo e pequenos cornos nas zonas das órbitas. Um corno grande atrás dos olhos projectava-se para o lado da cabeça. A equipa, que tem especialistas em evolução e crescimento do famoso Tyranossaurus rex e dos seus parentes mais próximos, os tiranossauros, trabalhou com fósseis bem preservados – mais exactamente, um crânio e um esqueleto de um jovem adulto e outro conjunto igual de um adulto e, ainda, um maxilar inferior e ossos isolados de exemplares jovens.

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Transporte de um exemplar adulto do dinossauro Daspletosaurus horneri David Varricchio

Os cientistas compararam os crânios do tiranossauro com os crânios de répteis da ordem crocodilia (ordem de grandes répteis que surgiram há mais de 80 milhões de anos e da qual fazem parte os crocodilos e jacarés), bem como de aves e mamíferos, e socorreram-se ainda de investigações anteriores que comparavam a textura dos ossos com diferentes tipos de cobertura de pele.

“Muita da nossa investigação foi além da paleontologia de campo. Foi gerada a partir de anatomia comparada no laboratório e houve a dissecação de aves, que são os actuais dinossauros, e de crocodilos, os seus parentes vivos mais próximos. E, tendo em conta as semelhanças nos nervos faciais e nas artérias que encontrámos nesses grupos, que deixam marcas nos ossos, fomos capazes de reconstruir a nova espécie”, disse Jay Sedlmayr, biólogo evolutivo do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Nova Orleães.

E o que os cientistas descobriram foi que, afinal, os tiranossauros tinham o focinho coberto por uma máscara de grandes escamas achatadas, com pequenos pedaços de pele parecida com uma armadura e até um corno. Esta camada de escamas protectoras tinha grande sensibilidade táctil, semelhante ao que acontece nos crocodilos.

“A nossa descoberta de uma rede sensorial complexa é especialmente interessante porque deriva do nervo trigémeo [um dos nervos cranianos, que controla por exemplo a mastigação], que tem uma história evolutiva extraordinária no desenvolvimento de uma variedade de ‘sextos sentidos’ em diferentes vertebrados – detecção do campo magnético por aves migratórias, electrorrecepção para predação no bico do ornitorrinco, orientação do movimento dos mamíferos através do uso de ‘bigodes’, detecção de vibrações na água pelos jacarés, e torna a tromba do elefante numa mão sensitiva semelhante ao que aconteceu com toda a cara dos tiranossauros”, explicou ainda Jay Sedlmayr, no comunicado da sua universidade.

“Afinal, os tiranossauros eram idênticos aos crocodilianos no sentido em que os seus ossos do focinho e das mandíbulas eram ásperos, à excepção de uma banda fina de ossos suave ao longo da fila de dentes”, acrescentou por sua vez Thomas Carr. “Nos crocodilianos, a textura áspera ocorria em profundidade debaixo das escamas grandes; dado terem uma textura idêntica, os tiranossauros tinham a mesma cobertura”, relatou Thomas Carr. “Não encontrámos quaisquer provas de lábios nos tiranossauros. A textura áspero coberta de escamas estendia-se quase até à fila de dentes, não deixando espaço para lábios.”