Por causa dos telemóveis, há cada vez mais cidades a colocar semáforos no chão
A distracção causada pelos telemóveis é responsável por um número crescente de atropelamentos. Na Holanda e na Alemanha, experimentam-se soluções para o problema.
Caminhar passou a ser uma actividade que é feita cada vez mais com a cabeça para baixo. A culpa é da omnipresença dos telemóveis e de outros dispositivos móveis que disputam cada vez mais a nossa atenção. As ruas tornam-se assim num cenário secundário e os olhos estão concentrados nos ecrãs. O resultado da distracção constante pode tornar-se perigoso e conduzir a atropelamentos, por exemplo. Para combater este risco, cresce o número de cidades que estão a apostar em sinalizar passadeiras com luzes no chão, para alertar os peões mais distraídos, que a imprensa anglófona apelida de smombie (uma mistura de smartphone e de zombie).
A mais recente cidade a apostar neste modelo de iluminação alternativa é Bodegraven, na Holanda, que se junta a um clube que já inclui Augsburg, Colónia e Munique, na Alemanha.
As faixas de luzes LED, colocadas ao longo do passeio, junto às passadeiras, estão coordenadas com os semáforos e alternam entre o verde e o vermelho, conforme o sinal para os peões. Esta é uma solução que pretende resolver uma tendência cuja reversão é encarada com alguma dificuldade, explica Kees Oskam, vereador da cidade.
O projecto de instalação de iluminação foi desenvolvido por uma empresa local, a HIG Traffic Systems, que pretende estender a prática a mais cidades.
De acordo com um estudo realizado pela Dekra Accident Research, a cidade sueca de Estocolmo surge como a capital europeia com o maior índice de utilização do telemóvel por parte dos peões (23,55%). Lisboa não aparece muito atrás na lista. Na capital portuguesa, por exemplo, 15% dos peões atravessam as estradas distraídos com o telemóvel, cita um estudo da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) revelado em Fevereiro deste ano.
O estudo detalha ainda que as distracções observadas ao atravessar a estrada incluíam peões a falar com o telemóvel na mão (5,7%), a enviar mensagens ou a consultar as redes sociais (4,8%) ou a usar auscultadores (5,9%).
A estes números somam-se os dados da sinistralidade, também medidos no concelho de Lisboa, que mostram que entre 2010 a 2015 mais de metade das vítimas mortais de acidentes rodoviários eram peões.
Na lista de cidades europeias observadas pela Dekra Accident Research surgem, depois de Lisboa, Berlim (14,9%), Paris (14,53%) e Bruxelas (14,12%) com resultados muito similares. Roma (10,2%) e Amesterdão (8,2%) surgem com indíces mais baixos de utilização do telemóvel por peões.