O criador total no Festival Encontros de Novas Dramaturgias
O END começa esta segunda-feira, Dia Mundial do Teatro, em Coimbra para explorar a produção do texto teatral e a multiplicidade do autor.
Escreve, encena e representa. É o criador de todo o espectáculo. A programação do Festival Encontros de Novas Dramaturgias (END), explica o director artístico Mickaël de Oliveira, “reflecte o autor-criador-encenador”, a figura que vai além da escrita do texto para o levar ao palco.
A terceira edição do Festival Encontros de Novas Dramaturgias, que aconteceu pela primeira vez em 2010, no Teatro Municipal São Luiz, arranca esta segunda-feira, Dia Mundial do Teatro, em Coimbra e vai até quarta-feira, dia que encerra com a estreia nacional de Antes, de Pedro Penim. Pelo meio, no festival co-produzido pelo Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) e pelo Colectivo 84, há espectáculos, seminários, leituras encenadas, apresentações de livros e conversas.
“Temos a posição do dramaturgo desdobrada em encenador e, às vezes, em intérprete”, refere o director artístico, que sublinha que no END anda tudo à volta do texto para teatro e dos autores que produzem neste momento em Portugal. Sobre os três dias de programação, Mickaël de Oliveira acrescenta ainda que o objectivo é “mostrar a pluralidade da escrita para teatro”.
Os espectáculos em cena no END mostram essa multiplicidade do autor. Romance, que foi escrito, concebido e interpretado por Lígia Soares, é disso exemplo. In the Fall the Fox, e na queda raposar, de Sónia Baptista, é também escrito e interpretado pela autora.
Mas o encontro mostra ainda as primeiras experiências de encenação de dois dramaturgos. Se Eu Vivesse, Tu Morrias, a peça de Miguel Castro Caldas que a Sociedade Portuguesa de Autores premiou este ano na categoria de Melhor Texto Português Representado, sai pela primeira vez de Lisboa para se apresentar esta terça-feira, dia 28, no palco do TAGV. Antes, no Dia Mundial do Teatro, é a vez de A Constituição, peça que o próprio Mickaël de Oliveira escreveu e encenou pela primeira vez em 2016, no Teatro Nacional D. Maria II.
O END encerra no dia 29 com Antes, de Pedro Penim. O espectáculo que explora a saudade do passado foi criado pelo dramaturgo e actor, membro do colectivo Teatro Praga, no âmbito de uma residência artística em São Brás de Alportel, no Algarve, e vai desenvolver-se ao longo de 2017.
Para lá do palco
Mas a programação não se circunscreve às paredes do TAGV, com o END a percorrer vários outros espaços de Coimbra, como a Casa das Caldeiras, a Casa da Escrita, o Colégio das Artes, havendo ainda lugar a uma leitura fora de portas. No dia 29, Albano Jerónimo interpreta a decadência da familía e do patriarcado através da leitura do texto Veneno, de Cláudia Lucas Chéu, na Baixa da cidade, no Largo do Arco de Almedina.
O ciclo de leituras, que Mickaël de Oliveira apresenta como sendo o “texto para teatro na sua forma mais despojada”, inclui também um texto de Miguel Graça, Lugares#1, e um conjunto de trabalhos do Laboratório de Escrita para Teatro, um projecto do D. Maria II coordenado por Rui Pina Coelho. O dramaturgo e professor modera no dia 28 uma conversa com Armando Nascimento Rosa, Carlos Costa, Jorge Palinhos e Miguel Castro Caldas, num debate que tem como mote a pergunta “Ensina-se a escrever para teatro?”.
Também Ruben A. será relembrado na abertura do END. O autor que marcou a década de 60 “tem poucas peças, mas relevantes para o panorama da história do teatro em Portugal”, aponta o director artístico do festival. Júlia será lido por várias vozes no Colégio das Artes.
Há espaço ainda para um seminário por dia. Miguel Graça, Cláudia Lucas Chéu e Ricardo Neves-Neves falam sobre a escrita para teatro, sobre o próprio trabalho e processo de criação em “Escrever para que pele?”. O festival promove também a Escola do Espectador Emancipado, que reúne 60 alunos e professores de cursos de teatro e artes performativas de todo o país, para os aproximar da criação contemporânea.