Suspeitos de terrorismo paravam pouco em Portugal quando cá moravam
“Eram utentes normalíssimos”, descreve responsável por centro de acolhimento de Aveiro onde marroquinos passaram sete meses.
Enquanto residiram em Portugal, os suspeitos de terrorismo de nacionalidade marroquina Abdessalam Tazi e Hicham el Hanafi passaram grande parte do tempo a viajar para fora. “Eram pessoas com grande mobilidade, quase nunca estavam” no país, facto que terá contribuído para reforçar as suspeitas que as autoridades portuguesas tinham sobre eles, explicou fonte ligada à investigação.
Tanto Abdessalam Tazi, que tem 63 anos e foi na quinta-feira à noite colocado em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto, depois de ter sido extraditado da Alemanha para Portugal, como Hicham el Hanafi, com 26 anos de idade, obtiveram o estatuto de refugiados quando entraram em Portugal, em 2014. Passaram pelo centro de acolhimento de refugiados da Bobadela e estiveram depois a morar num centro social do distrito de Aveiro, o Cesda, da igreja evangélica metodista portuguesa.
“Estiveram no nosso centro de acolhimento entre Novembro de 2013 e Junho de 2014. A partir dessa data autonomizaram-se”, conta a responsável por este centro de acolhimento temporário, Liliana Marques, que garante que ali nenhum deles levantou suspeitas na altura: “Eram utentes normalíssimos.”
Só mais tarde, em 2015, e durante ano e meio, começaram a ser investigados por suspeitas de ligação ao Daesh. Primeiro pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e depois pela Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da Polícia Judiciária.
A colaboração das autoridades portuguesas terá sido relevante na detenção de Hicham el Hanafi em Novembro passado, em França. Estaria, juntamente com outros terroristas, a preparar um ataque. Foi detido com outros seis suspeitos jihadistas, de nacionalidade francesa e afegã, durante uma operação levada a cabo em Estrasburgo e Marselha.
Já o seu colega mais velho, o antigo polícia Abdessalam Tazi, estava a cumprir pena na Alemanha por um crime de delito comum – uma fraude –, tendo no final da saída da prisão sido extraditado para Portugal na sequência de um mandado de detenção internacional por suspeitas de terrorismo. Portugal será o país que, pelos indícios recolhidos durante a investigação, estará em melhores condições de o levar a julgamento pela prática deste tipo de crimes.
Enquanto isso não acontece, terá de se sujeitar a um isolamento quase total nas duas primeiras semanas que passar em Monsanto, uma prática habitual para quem entra nesta cadeia: só poderá contactar com os guardas, e não com os restantes reclusos, e se quiser frequentar o recreio por enquanto terá de o fazer sozinho.
Quando entrar na rotina desta prisão já poderá estar ao ar livre com mais dois outros presos – mas não mais do que isso, devido às apertadas normas de segurança, que fazem com que todas as refeições sejam tomadas nas celas. Com lugar para cerca de 130 reclusos, Monsanto conta neste momento com apenas 58, tantos como os guardas que ali existem.