Francisco pede perdão pelo papel da Igreja Católica no genocídio do Ruanda

O Papa Francisco recebeu no Vaticano o Presidente ruandês Paul Kagame e reforçou compromisso católico com a reconciliação do país, 23 anos após a morte de 800 mil pessoas.

Foto
Pelo menos 800 mil pessoas morreram no genocídio ruandês. LUSA/TONY GENTILE / POOL

O Papa Francisco pediu esta segunda-feira perdão ao Presidente do Ruanda, Paul Kagame, pelos “pecados e falhas da Igreja e dos seus membros" durante o genocídio da minoria tutsi naquele país, em 1994. O chefe de Estado ruandês foi recebido no Vaticano, numa altura em que permanece tensa a relação entre o país e a Igreja Católica apesar de, nos últimos anos, por várias vezes a hierarquia religiosa ter lamentado o papel que padres e religiosos ruandeses tiveram no apoio ao Governo extremista hutu.

A afirmação de Francisco é citada pela agência Associated Press, segundo a qual o chefe da Igreja Católica reconheceu, na ocasião, que vários religiosos ao serviço no país “sucumbiram ao ódio e à violência, traindo a sua missão evangélica”. O Vaticano também “expressou o desejo de que este humilde reconhecimento das falhas daquele período” possam “contribuir para a purificação da memória e promover um futuro de paz”.

O encontro no Vaticano durou cerca de 20 minutos e foi descrito como “cordial” aos jornalistas, que foram mantidos à distância da reunião, conta a agência Lusa. Francisco ofereceu a Paul Kagame uma medalha representando "um deserto que se tornou um jardim", numa alusão ao país em reconstrução após o genocídio. O presidente ruandês, por sua vez, deu ao Papa uma vara tradicional africana "para convocar as pessoas".

O Papa Francisco já tinha lamentado publicamente o genocídio do Ruanda em 2014, na véspera do dia em que o país assinalava 20 anos sobre o início do massacre da minoria tutsi. Dias antes tinha recebido os nove bispos católicos do país e feito uma oração pela reconciliação. Em Novembro do ano passado, a hierarquia da Igreja Católica no Ruanda também pediu desculpa publicamente numa carta pelo seu papel nos actos de 1994, mas na altura o Governo ruandês tinha defendido que o próprio Vaticano devia pedir perdão pelo envolvimento de religiosos.

Segundo as Nações Unidas, o genocídio da minoria tutsi vitimou 800 mil pessoas. A Igreja Católica foi por diversas vezes posta em causa devido à sua proximidade com o regime extremista hutu da época do genocídio, e pelo facto de padres e religiosos terem estado envolvidos nos massacres. Vários religiosos foram julgados nos anos seguintes e alguns deles condenados. Actualmente, cerca de metade dos ruandeses são católicos, depois de muitos se terem voltado para as igrejas pentecostais após o genocídio.

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar