Medicina
Um país com falta de médicos (e onde os futuros médicos não querem ficar)
Apesar de a Roménia ser um dos países da União Europeia (UE) com o maior número de médicos licenciados, o sistema - corrupto, ineficiente e politizado - não é capaz de motivá-los a permanecer no país.
Sonia Papiu começou o primeiro ano de especialização como psiquiatra há menos de três meses, na cidade romena de Cluj, mas já decidiu que até ao final do ano vai sair do país. Assim como a maioria dos jovens que iniciam o seu estágio em medicina, Sonia acredita que lá fora consegue encontrar mais oportunidades de aprendizagem e hospitais com melhores condições de trabalho. “Acho que nenhum dos meus colegas pensa em ficar aqui”, confessou Sonia em entrevista à Reuters. “Penso que posso aprender mais no estrangeiro. Os estagiários têm mais responsabilidades lá”.
Desde que a Roménia entrou para a UE, em 2007, o país perdeu dezenas de milhares de médicos, enfermeiros, dentistas e farmacêuticos, que procuram no exterior aquilo que carece no país: salários consideravelmente mais elevados, infra-estruturas modernas e sistemas de saúde funcionais. A França, Alemanha e Grã-Bretanha estão entre os destinos mais populares.
As consequências desta emigração são visíveis. A Roménia é um dos países da UE com menos médicos, onde quase um terço das posições hospitalares estão por preencher. O Ministério da Saúde estima que um em cada quatro romenos tem um acesso insuficiente aos cuidados de saúde essenciais. "Os hospitais estão a enfrentar um grande défice de pessoal e há cidades que não têm um médico de família", disse o ex-ministro da Saúde, Vlad Voiculescu.
Nas áreas mais rurais, o problema é ainda maior. "Como temos apenas um médico para a maioria das especialidades, quando um médico vai de férias temos de fechar o departamento", disse Cristian Vlad, gerente do hospital em Viseul de Sus, uma pequena cidade perto da fronteira ucraniana com cerca de 18 mil habitantes. Segundo Vlad, até ao ano passado três hospitais da região dividiram um anestesista. "Tenho esperança de que os nossos médicos estagiários mudem de ideias e permaneçam nos pequenos hospitais", confessou Vlad.
Andreea Kis é uma excepção à grande vaga de emigração. Há quase cinco anos, mudou-se para a vila de Tureni com o marido e os dois filhos para trabalhar como médica de família. “Escolhi ser médica de família porque é algo compatível com a vida familiar", disse Kis. "Nas aldeias, as pessoas conseguem preservar melhor a sua humanidade”.
A Roménia já está a tomar algumas medidas para combater a falta de médicos no país. O salário médio do sistema de saúde aumentou para 2609 leus romenos (cerca de 565 euros), quase o dobro de três anos atrás. Contudo, ainda não se ajusta aos padrões ocidentais. Em 2016, o Ministério da Saúde criou um plano plurianual para a profissão médica, incluindo um processo de recrutamento mais simples, mais oportunidades de promoção e subsídios para os médicos dispostos a mudar para aldeias remotas. Contudo, a estratégia ainda não foi aprovada pelo primeiro-ministro social-democrata Sorin Grindeanu, eleito em Janeiro deste ano. "As medidas para melhorar os cuidados de saúde estão em vigor, mas o sistema sofre de ineficiências, acessibilidade limitada e corrupção", disse a Comissão Europeia no mês passado.