Passos admitia o “risco de eleições legislativas antes das autárquicas”

Candidata à câmara de Lisboa, Assunção Cristas acredita poder ultrapassar o resultado de Portas na capital, bem como subir as percentagens nas autárquicas. E explica porque não vai numa lista conjunta com o PSD: Passos não quis.

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Assunção Cristas à entrada da sede do CDS Nuno Ferreira Santos

A líder do CDS avançou como candidata a Lisboa sem negociar primeiro com o PSD, mas afirma que essa negociação estava feita nas bases e só não aconteceu, porque Passos Coelho não quis.

O que é que correu mal, para falhar o acordo com o PSD?
Penso que o PSD queria ter um candidato próprio. Inicialmente tinha um compromisso com Pedro Santana Lopes. Depois, quando ele se mostrou não disponível, continuou a querer ter um candidato — isso é perfeitamente compreensível, aceitável. Da nossa parte houve muita tranquilidade e tempo na conversa com o PSD e na preparação de tudo. O PSD não nos pediu para esperarmos, para encontrarmos um candidato conjunto ou alternativo. Cada um fez o seu caminho. Tenho alguma pena que se tenha perdido a oportunidade de ter uma candidatura forte e unida que pudesse, com mais facilidade, tirar a câmara ao PS.

Já falou com Passos Coelho? Tem ainda esperança que o PSD volte atrás?
Não tenho muitas esperanças, mas não gasto muito tempo com as coisas que não dependem de mim.

Confirma que o CDS apresentou um pedido de listas paritárias — e que isso inviabilizou a coligação?
Não confirmo, por uma razão muito simples: houve uma coligação fechada ao nível das bases [do CDS e do PSD].

Foi uma recusa da direcção.
Certamente.

Se não foi isso, foi o quê? O pedido do PSD para o CDS retirar o apoio a Rui Moreira?
Para mim, é uma não questão. Seria uma condição impossível, porque ficou fechado no congresso do CDS (em Março de 2016).

Mas Passos Coelho disse-lhe que havia essa condição?
Não o disse de forma clara nas primeiras conversas. Quando começaram a aparecer, pareceu-me que era eventualmente um problema para o PSD. Mas nunca foi um ponto de partida, para nós nunca esteve em cima da mesa.

Se não estava, o líder do PSD alguma vez lhe explicou porque é que o acordo não aconteceu? Porque é que esse acordo fechado nas bases não passou na direcção?
Explicou-me que, de facto, havia a questão do Porto e havia a questão de apresentar um candidato a Lisboa. Mas, para mim, as questões nunca foram particularmente claras. Para mim, é claro que não havia uma vontade.

Mas foi-lhe dada alguma justificação que lhe explicasse porque não havia essa vontade?
O que posso dizer é que, em final de Agosto, quando falei com o dr. Passos Coelho sobre a questão das autárquicas e a questão de Lisboa, creio que o nosso quadro de cenário político era muito diferente. Eu estava já convencida na altura que as eleições autárquicas iam ser o primeiro acto eleitoral nesta legislatura. E, portanto, que o primeiro desafio para CDS e PSD seriam as autárquicas — e que era aí que tínhamos de apostar tudo, nomeadamente em candidaturas fortes, que pudessem tirar câmaras ao PS. O quadro e o cenário de pensamento do dr. Passos Coelho não era esse: na altura, em final de Agosto, ele entendia que podia haver um risco de eleições legislativas antes das eleições autárquicas. Ele até, enfim, me felicitou pela coragem de avançar para Lisboa, mas via aqui algum risco — de como é que faria, se houvesse eleições legislativas antes das eleições autárquicas. Mas isso, para mim, era uma questão perfeitamente arrumada na minha cabeça — achava que não ia haver.

Quantas coligações fechou já com o PSD?
De papel passado não são muitas.

Candidaturas a câmaras vão ser mais ou menos?
Em coligação não sei. É capaz de não andar muito distante [das últimas autárquicas].

Ao concorrer à Câmara de Lisboa, está a mimetizar Portas?
Não, nem me passou pela cabeça. Esta ideia tinha surgido antes do congresso do CDS. No jantar de Natal da concelhia, em Dezembro de 2015, falaram comigo e perguntaram o que é que eu achava. Disse que achava óptimo, porque é algo que eu gostaria imenso de poder fazer, que era ser presidente da Câmara de Lisboa.

Fica satisfeita se tiver um resultado abaixo do que Paulo Portas teve, 7%?
Obviamente, quando nos candidatamos é para fazer melhor. Espero que possamos ter o melhor resultado possível. Paulo Portas teve 7%, Maria José Nogueira Pinto teve 5,9%. Entre os 6% e os 7% foram os últimos resultados do CDS sozinho em Lisboa. Trabalharei para ter o melhor resultado possível. Sempre pensando que estarei a trabalhar para ser presidente da câmara. Alguém dizia: “Assim é mais difícil seres eleita, podes prometer outras coisas.” Não cola comigo, proporei o que acho que posso executar.

O CDS tem cinco câmaras...
Mais 22 com o PSD e duas com independentes.

O que é, para si, uma vitória eleitoral em câmaras e percentagens?
Temos desafios muito diferentes pelo país — há sítios onde não temos sequer um membro numa junta ou numa assembleia municipal. Uma vitória é, em geral, aumentar a nossa representação. Em todos os lados temos de conseguir melhor representação. Se me disser: manter as cinco câmaras é mau?, eu digo-lhe que não, pode não ser mau. Se tivermos subido [em número de] vereadores, número de deputados municipais ou representantes nas juntas, é positivo para nós. Não vejo as coisas no curto prazo, vejo sempre no médio-longo prazo. Há que ir construindo soluções para agora, mas também para daqui a quatro anos.

Já disse que, se ganhasse a câmara, o CDS apresentaria outro candidato a primeiro-ministro. Quem?
Disse que exerceria o meu mandato até ao final e não seria candidata a deputada. O CDS tem de fazer um longo caminho até poder ambicionar ter um verdadeiro candidato a primeiro-ministro — com possibilidade de lá chegar. E eu tenho os pés muito assentes na terra. Acho que puxo pelo partido, gosto de ter ambição, mas tenho uma boa dose de realismo. O CDS teve 11,7% na sua melhor votação. Acho que estamos muito longe de ter um verdadeiro candidato a primeiro-ministro.

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