Incêndio atrasou obras no observatório do Jardim Botânico de Lisboa

Uma das cúpulas de observação ficou danificada num incêndio em Setembro. Os danos não são significativos, mas desde então todos os trabalhos estão parados.

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Este observatório é uma estrutura única no país miguel madeira

Há exactamente meio ano que as obras de recuperação do observatório astronómico da Escola Politécnica, no Jardim Botânico de Lisboa, estão paradas. Em Setembro, um incêndio deflagrou numa das cúpulas do edifício oitocentista e, desde então, os trabalhos não mais recomeçaram.

Eram quase onze da noite quando, a 13 de Setembro de 2016, os Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique foram chamados ao Jardim Botânico, na Rua da Escola Politécnica, alertados de que havia fogo no observatório astronómico.  Situado na parte de cima do jardim, do lado esquerdo de quem está de frente para o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), o edifício data de 1898 e é um dos únicos três do género na Europa.

“Fiquei em pânico, vim a correr”, diz Marta Lourenço, subdirectora do MUHNAC e responsável pelo observatório, que estava a ser recuperado há alguns meses segundo um projecto do arquitecto João Pedro Falcão de Campos. Porém, a estrutura não sofreu “danos absolutamente nenhuns”, garante.

De acordo com o relatório dos bombeiros, “ardeu diverso material relacionado com a obra” e “a cúpula de ferro ficou danificada em virtude das altas temperaturas resultantes da combustão dos diversos materiais combustíveis”. Ainda segundo este relatório, “arderam diversas pranchas de madeira no exterior que se encontravam nos andaimes de apoio à obra”.

Apesar de não ter passado de “um pequeno foco de incêndio” sem consequências de maior, a Universidade de Lisboa, que gere o espaço, “pediu a abertura de um inquérito, que ainda está a decorrer”, explica Marta Lourenço. É por esse motivo que as obras ainda não recomeçaram, uma vez que a Polícia Judiciária nem sequer autoriza a entrada no edifício.

A ideia dos dirigentes do MUHNAC era ter o observatório pronto a tempo da reabertura do Jardim Botânico, que também está em obras de reabilitação no âmbito de um projecto vencedor do Orçamento Participativo de 2013. Esses trabalhos deverão estar concluídos no fim do Verão, mas o observatório astronómico não estará terminado nessa altura. “Queremos que rapidamente seja concluído este processo de averiguação de responsabilidades”, diz Marta Lourenço. A universidade encomendou já um novo projecto a Falcão de Campos e quer vê-lo a ser implementado tão brevemente quanto possível.

A intenção da Universidade de Lisboa é que o observatório seja “recuperado à traça e com os materiais originais, albergando a colecção de telescópios e outros instrumentos de astronomia”, lê-se numa brochura produzida pela instituição. “A cúpula central dispõe de um telescópio Zeiss que ficará em funcionamento para observações do céu pelo público”, afiança o mesmo documento.

Este observatório foi construído propositadamente para uso dos estudantes da Escola Politécnica, depois transformada em Faculdade de Ciências de Lisboa. Segundo Marta Lourenço, a planta desta estrutura difere bastante da de um observatório astronómico como o da Ajuda, que está mais vocacionado para a investigação. Na Europa só existem mais dois observatórios como o da Politécnica, assegura a especialista: o de Leiden, na Holanda (de 1633) e o de Estrasburgo, em França (de 1881). As universidades do Porto e Coimbra também têm observatórios astronómicos destinados à investigação e ao ensino – datam ambos do século XX.

Desactivado desde 2002, o edifício foi tapado em 2011 com uma estrutura metálica para ficar protegido da chuva, tal o estado de degradação a que tinha chegado. Entre o fim de 2015 e o início de 2016 iniciaram-se obras de recuperação da cobertura, orçadas em cerca de 150 mil euros. Mas ainda está a faltar financiamento para o restante projecto, que em 2011 tinha um custo estimado a rondar os dois milhões de euros. 

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