Jesse Klaver é a força do optimismo contra o negativismo de Geert Wilders

Na Holanda, o líder da Esquerda Verde, com apenas 30 anos, está a subir nas sondagens com um discurso baseado na empatia. Deve entrar no próximo governo.

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Os comícios deJesse Klaver, o novo líder do partido Esquerda Verde, têm um ambiente diferente Michael Kooren/REUTERS

A atmosfera é de um entusiasmo quase juvenil. Há uma fila à porta de uma arena com capacidade para 5000 pessoas, e está esgotado. Vai haver música, mas não é por isso que estas pessoas aqui estão: vêm ver Jesse Klaver, o novo líder do partido Esquerda Verde (GroenLinks), que muitos descrevem como uma espécie de contraponto à figura que está a dominar a atenção nas eleições da próxima quarta-feira na Holanda, o populista Geert Wilders.

“Nunca fui a um comício, mas isto não é um comício”, diz Henk Veldhuisen, estudante, que veio de uma localidade a 150 km para estar aqui esta noite. “Isto é o início de um movimento, é o início de uma mudança, e precisamos muito desta mudança”, defende.

“Muitos países dizem que há um movimento populista na Holanda”, diz o pai de Henk, Clart, que também veio ao meet up. “O que eu gostava que vissem é que também há um movimento muito forte contra o populismo!"

O mesmo diz Raymond Querido, do teatro Frascati, horas antes e ao que parece um mundo de distância, num elegante café perto do teatro, bem no centro de Amesterdão. “Antes votava entre o Partido Trabalhista e o partido Esquerda Verde. Mas agora não é altura de votar tacticamente. É altura de fazer uma escolha mais radical". Ele acredita em votar num partido que representa um olhar positivo para contrariar a agressividade do discurso populista e cujo líder é praticamente um anti-Wilders: o seu pai é marroquino (uma população que é um dos alvos preferidos do populista) e a sua mãe de ascendência indonésia (aqui têm a única semelhança, Wilders tem uma avó indonésia).

Curva ascendente

“Em vez desta onda de negatividade, eu prefiro ser optimista”, diz Querido (o nome, explica mais tarde, é um nome judeu, português, de pessoas que fugiram da inquisição). “Depois do 'Brexit' e de tudo, estou agora realmente entusiasmado com esta eleição”, continua. “Estou convencido – espero – que o ponto mais alto dos populistas já esteja atrás de nós. Espero que o que estamos a ver agora seja a curva ascendente.”

O comício está esgotado, mas é possível seguir o evento no Facebook. Quando Klaver começa a falar, camisa branca, mangas arregaçadas, e um certo ar da idade que tem – apenas 30 anos - há mais de quatro mil pessoas a seguir a emissão.

Klaver critica fazer-se política com o medo, fala de liberdade, empatia, e é isso que a audiência quer ouvir. Há quem aponte semelhanças com Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano.

Quando acaba de falar, recebe um aplauso de estrela de rock. Há gritinhos quando se aproxima da audiência e aperta a mão a uma rapariga.

O partido, que surgiu da fusão em 1989 dos partidos comunista, pacifista, evangélico e radicais políticos de esquerda, tem neste momento quatro deputados no Parlamento – desde a sua criação nunca conseguiu mais de dez. As sondagens dizem que poderá obter à volta de 15. Quando os dois partidos que vão à frente – extrema-direita de Wilders e o Partido da Liberdade e Democracia (centro-direita) do primeiro-ministro Mark Rutte têm projectados entre 26 e 23.

Com a próxima coligação muito provavelmente a não incluir Wilders (todos prometeram não cooperar com ele, e ele disse que não colaboraria com Rutte), Klaver deverá pelo menos participar no próximo governo. Isto apesar de ser atacado pelos outros líderes que o criticam por ingenuidade.

O seu perfil ficou cimentado com uma entrevista ao Guardian em que era apresentado como “the Jessiah”. Ainda que algo exagerado, a multidão que o foi ver esta quinta-feira à noite mostrava de facto uma energia de movimento ascendente.

Mas entre quem vem ver Klaver não estão só convertidos. Anna van Tiel, 24 anos, veio para saber mais sobre o partido mas ainda não sabe se na quarta-feira vai votar na Esquerda Verde ou nos liberais do D66.

“Não vou decidir só com base no programa”, diz. Uma coisa é certa: apesar de ser sobretudo contra Wilders, que simboliza tudo o que é contra, não vai votar em algo com que não concorda só para o impedir de ficar em primeiro, como previam há pouco algumas sondagens.

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