Não é "cultura fora do sítio", é "cultura em expansão" e está de volta ao Porto

Entre Março e Dezembro, a cultura volta a saltar dos grandes palcos até aos bairros do Porto. Há laboratórios, cinema, espectáculos de música, dança e teatro, todos gratuitos, todos feitos para toda a gente.

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paulo pimenta

No Bairro da Bouça, como em Campanhã, Pasteleira, Lomba, Fontaínhas e Aldoar não costumam tocar grandes nomes. Mas este ano, Sérgio Godinho, com Filipe Raposo ao piano, vai usar como palco a Associação de Moradores da Bouça, a mesma sala que no ano passado foi pequena demais para toda a gente que quis ouvir o fado de Gisela João.

O programa da edição de 2017 da “Cultura em Expansão” foi apresentado também aqui, na Rua dos Burgães, esta terça-feira de manhã. O concerto a 27 de Maio está incluído no projecto “Dueto para Um”, uma estreia desta iniciativa que vai juntar, dois a dois, nomes conhecidos da música portuguesa. Filho da Mãe com João Pais Filipe são os primeiros a encontrar-se na associação recreativa Malmequeres de Noêda daqui a um mês. Simone de Oliveira, acompanhada ao piano por Nuno Feist, vai a Campanhã, freguesia com várias apostas nesta edição, para um concerto “olhos nos olhos” no primeiro dia de Julho. Nas Fontaínhas, o espectáculo é outro. Edgar Pêra e a dupla Rui Lima & Sérgio Martins propõem um cineconcerto, à semelhança do que aconteceu em Serralves no final do ano passado, uma interacção entre sons e imagens pré-montadas e captadas em directo que fazem com que este seja um espectáculo irrepetível.

Na edição de 2017, a aposta vai para o trabalho laboratorial. Arquipélago, do grupo Ao Cabo Teatro, junta os habitantes das ilhas e bairros do Porto num conceito de estaleiro criativo aberto. Mantém-se o projecto de intervenção social e artística “OUPA!”, começado em 2014 no Bairro do Cerco e que este ano salta para o Bairro da Pasteleira. Os jovens do bairro participam durante seis meses em oficinas de escrita, produção musical e performance que culminam num espectáculo final que vai a cena num palco mais comum - o Rivoli, no dia 17 de Dezembro, às 17h.

Desta edição vai resultar um filme, Tráfico, realizado por João Salaviza com o brasileiro Ricardo Alves Jr. Os artistas tiveram “carta branca” e optaram por “explorar a relação entre corpos e máquinas” e o “tráfico de histórias”. Com a duração de 30 minutos, vai ser apresentado no último dia da iniciativa, a 17 de Dezembro.

No teatro, o destaque vai para “Arena”, mais um projecto novo desta edição. O público é convidado a fazer parte do cenário, formando um círculo ao redor do actor. O primeiro dos quatro monólogos, que decorrem no Bairro Social da Pasteleira, é guiado por Diogo Infante.

Ode Marítima, que explora o imaginário marítimo português, é o espectáculo teatral escolhido para abrir o Cultura em Expansão 2017, a 25 de Março, às 21h30.

E porque durante esta iniciativa “o palco é a cidade”, a programação é estendida a grupos de teatro amadores em quatro projectos de longo curso que pretendem reflectir sobre identidade e território. Em Outubro, Diana de Sousa pega no mito de Penélope, a imagem da mulher que espera pacientemente que Ulisses, o seu amor, regresse a casa e desconstrói-a com a ajuda de 16 mulheres, tanto do Porto como de longe, e que agora pertencem também à cidade. “Quantas – e quão diversas – Penélopes existem na cidade do Porto?”, “Que lugar ocupam na comunidade”, são algumas das perguntas que de 13 a 15 de Outubro vão ser respondidas no Palácio dos Correios, às 21h30.

Este ano, a cultura expandiu mesmo além-fronteiras. “Reclaim The Future”, (“Exige o Futuro”, em português”), parte de Campanhã e termina em 2018 num evento em Bruxelas, com elementos das comunidades locais de cinco países. Portugal junta-se à festa com a Suécia, Escócia, Letónia e França e, “inspirando-se na energia e potencial de mudança que caracterizam os Carnavais”, tem de criar um conjunto de actividades que culminem em três dias de apresentações públicas. Assim, o Porto vai ter uma “Parada desatada” de Carnaval em pleno Julho, além de conferências, conversas sobre arte e comunidade e um espectáculo sueco reconstruído por portugueses. A criação e produção estão a cargo do grupo Visões Úteis e tem co-financiamento do Programa Europa Criativa, da União Europeia.

Já noutro campo, o cinema, durante três sessões em Aldoar, o público é que manda. “Você Decide!” funciona mais ou menos como nos discos pedidos: os espectadores escolhem, a partir de uma lista maioritariamente constituída por cinema mudo, o filme que querem ver e, à semelhança dos músicos que acompanhavam os filmes nos primeiros dias do cinema, a Companhia Caótica começa a tocar.

Nesta edição regressa também o “Nove e Meia – Cineclube Nómada”, aos sábados, no Bairro da Lomba.

O "Cultura em Expansão" procura "públicos mais diversificados" e um envolvimento cultural mais forte dos residentes do Porto. Em mais um ano, a iniciativa quer também ela expandir-se até deixar de ser necessária e por isso não pretende ser “um acto vulcânico”, explica o presidente da Câmara, Rui Moreira, mas antes oferecer “uma oferta contínua, sólida e sistemática”.

Com um “programa mais extenso”, diz Rui Moreira, o projecto da Câmara do Porto que tem a Fundação Manuel António da Mota como parceira, teve “um investimento de 220 mil euros”, mais 30 mil que na edição passada.

Texto editado por Ana Fernandes

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