A escolha de Pedro Alpoim para dirigir o Museu da Imagem de Braga está a ser contestada. Rui Prata, antigo director do espaço, que tem à sua guarda um acervo de mais de 200 mil imagens que cobrem quase todo o século XX, questiona o currículo do vencedor. A segunda classificada do concurso público, Catarina Miranda Basso, vai reclamar a decisão do júri e pondera avançar com uma impugnação judicial de todo o processo.

Pedro Alpoim é licenciado em Som e Imagem e tem uma pós-graduação em Gestão de Indústrias Criativas. Actualmente trabalha como técnico na Companhia de Teatro de Braga. Catarina Miranda Basso, licenciada em História da Arte, mestre na mesma área com um trabalho sobre a retratística em Portugal e a introdução da daguerreotipia, no século XIX, está neste momento a terminar um doutoramento na Universidade do Minho em que o objecto central é o Arquivo Aliança. O Museu da Imagem foi precisamente criado para albergar a doação de João Fernandes Costa do espólio da Aliança, casa de fotografia que funcionou em Braga entre 1910 e a década de 1980.

“Temos uma candidata que conhece como as palmas das mãos o Museu da Imagem e o lugar é dado a uma pessoa que trabalha na área do teatro? Isto é, no mínimo, estranho”, defende Rui Prata que entre 2000 e 2015 dirigiu aquele espaço cultural. “Isto prenuncia que o acervo do museu da imagem não vai ser acautelado conforme as normas e divulgado”, afirma ainda.

A escolha de Pedro Alpoim foi feita por concurso público. Para a decisão do júri foram contabilizados três parâmetros: uma prova escrita de conhecimentos, que valia 45% da nota final, uma avaliação psicológica (25%) e uma entrevista (30%). Catarina Miranda Basso foi a melhor classificada na prova escrita, com 19,7 valores. Os outros dois componentes acabaram por ser decisivos para que a escolha recaísse sobre Pedro Alpoim, que teve 16 valores na avaliação psicológica (Basso teve 12) e nota máxima na entrevista (Basso teve 16). Na classificação final, Alpoim ficou com 17,65 valores, e Catarina Miranda Basso com 16,67.

O currículo dos candidatos teve um peso residual na escolha, sendo apenas valorizado no momento de admissão ao concurso. Numa fase inicial era exigido que o candidato tivesse uma licenciatura em Ciências Sociais, com especialização em fotografia. Na segunda reunião do júri, em Maio de 2016, foi feita uma alteração. Passaram a ser aceites todos os candidatos que tivessem licenciatura, pós-graduação, mestrado ou doutoramento em cujo plano de estudos houvesse uma disciplina na área da fotografia. “Dada a dificuldade em determinar a que universo de licenciaturas se referia o aviso, o júri deliberou especificar o requisito”, justifica fonte da Câmara de Braga ao PÚBLICO.

A decisão pode pôr em causa o chamado princípio de estabilidade dos concursos, por ter sido tomada a meio dos processos. Além disso, alguns dos concorrentes dizem não ter sido informados desta decisão do júri. Outro problema é o tempo que durou todo o processo.

O Museu da Imagem está sem direcção desde que Rui Prata decidiu reformar-se e deixou a liderança, que ocupou durante 15 anos, em Janeiro de 2015. No final desse ano, a 22 de Dezembro, a Câmara de Braga abriu um concurso público para encontrar uma solução para o lugar, mas só em Junho foi publicada a relação dos candidatos admitidos e foi iniciado o processo de selecção. A decisão final foi publicada a 9 de Fevereiro deste ano. A lei prevê um prazo de um ano para situações análogas.

Estes factos podem levar a uma impugnação judicial de todo o concurso. Catarina Miranda Basso está ainda a estudar essa possibilidade com a sua advogada. Para já, vai reclamar da decisão do júri, no âmbito do período de reclamações que faz parte do concurso público. Basso teme, porém, pelo rumo do Museu da Imagem: “Segundo os dados que vieram a público nos últimos dias, adivinha-se que vá tornar-se uma Casa dos Crivos II, curiosa e tristemente, outro espaço cultural municipal que tinha na sua génese um projecto museológico destinado a albergar, precisamente, os vários arquivos fotográficos da cidade de Braga...”, lamenta a investigadora.

Este edifício do século XVII tem hoje uma programação irregular e muito diversa, recebendo tanto obras do pintor bracarense Luís de Campos (1913-1982), como exposições de marionetas, artesanato ou o trabalho que o designer Nuno Coelho desenvolveu a partir do acervo da saboaria Confiança.  

A terceira classificada no concurso foi Ângela Ferreira, que até ao ano passado dirigiu os Encontros da Imagem (ver texto à parte). Contactada pelo PÚBLICO a fotógrafa e curadora diz não ter intenção de impugnar o concurso. “Face ao que tem vindo a público acerca do museu, deixei de ter interesse no projecto.”

Pedro Alpoim diz “não recear” a impugnação. “Trata-se de um concurso público. Os parâmetros de avaliação são conhecidos”, argumenta. Uma vez que “o processo ainda não está concluído”, o escolhido para dirigir o Museu da Imagem não quer ainda avançar quais serão as linhas orientadoras da nova gestão.

Outra questão polémica no concurso público é o facto de o júri ser presidido por Paulo Brandão, director artístico do Theatro Circo de Braga. A Companhia de Teatro de Braga, onde trabalha Alpoim, é a companhia residente do teatro municipal de Braga. Além disso, o técnico tem sido pontualmente contratado como colaborador externo ao longo dos últimos anos pela mesma estrutura. A Câmara Municipal de Braga defende, no entanto, que “não existe qualquer incompatibilidade com a apreciação de qualquer candidatura de outros profissionais ou colaboradores externos desta entidade”.