Não é de agora a alegria que tenho de ouvir a música de Salvador Sobral. Mas chegou a altura de partilhar esse prazer e esperar que ele atinja o público internacional que merece.
A voz dele é límpida e aérea. Tem uma musicalidade irrequieta que se atreve a cantar por cima do canto. Canta como se toda a música dependesse dele. Cada canção é um tudo ou nada.
Convalescente e sem auscultadores depois de ter ganho o Festival da Canção com Amar pelos dois, uma canção bonita e subtil de Luísa Sobral (de quem é irmão), Salvador Sobral recusou-se a jogar pelo seguro e arriscou tudo mais uma vez, entregando a voz ao momento e ao público. O resultado, cantado com a irmã, sem artifícios ou automatismos, foi comovente de tão bem conseguido.
Os grandes intérpretes conseguem partilhar as emoções e, quando não as sentem, inventam-nas de maneira convincente. É ao partilhá-las através da empatia fascinada do público que começam deveras a senti-las e a torná-las cada vez mais íntimas.
Salvador Sobral é esse artista desde que o ouvi cantar pela primeira vez. Fez-me logo lembrar, pela sensibilidade e pela abertura musical, o jovem Frank Sinatra quando tinha a mesma idade.
Não é preciso acesso às gravações: basta vê-lo no YouTube em qualquer fase da carreira dele. Acompanhamo-la a apanhar as músicas e a torná-las dele e de quem as ouve. É maravilhoso ver como ele se surpreende com o próprio talento, deixando--se enlevar e levando-nos com ele.
Viva Salvador Sobral! Que nunca mais pare quieto.