Salários chineses triplicam e aproximam-se dos de Portugal
O salário médio chinês aumentou e ultrapassou os salários praticados na América Latina (com excepção do Chile). Neste momento, os salários portugueses são 25% superiores aos chineses.
Na China, os salários médios do sector secundário subiram e neste momento encontram-se acima dos vencimentos de países como o Brasil e o México. De acordo com os dados do Euromonitor International, os salários dos trabalhadores fabris chineses chegam a 70% dos salários médios praticados em países como a Grécia e Portugal.
Depois de uma década de crescimento vertiginoso, como classifica o Financial Times (FT), os trabalhadores chineses, como um todo, ganham mais à hora do que a maior parte dos trabalhadores da América Latina – excepto o Chile. Neste momento, os salários chineses chegam a 70% dos salários dos países de menores rendimentos da Europa, como a Grécia e Portugal, de acordo com os dados divulgados pelo Euromonitor International, um grupo de pesquisa focado nos mercados internacionais.
Os números, divulgados pelo Financial Times, indicam que a China conseguiu progredir e melhorar as condições de vida dos seus 1,4 mil milhões de habitantes – o que pode explicar o aumento da sua produtividade. Estes números mostram, também, que a China tem espaço para aumentar ainda mais os seus salários, colocando-os ao nível dos países de rendimentos médios.
No entanto, enquanto ponto negativo, o FT indica que o aumento dos salários médios na China pode significar uma perda geral de postos de trabalho para outros países em desenvolvimento. Estes novos dados também mostraram que os salários na América Latina estagnaram ou caíram em termos reais.
Nos dados divulgados pelo Euromonitor International, percebe-se que na Grécia o salário médio por hora desceu e situa-se em metade do valor de 2009.
“O crescimento da China é notável, comparado com todos os outros”, disse Charles Roberston, economista-chefe da Renaissance Capital, um banco de investimento focado em mercados emergentes, ao FT. “Está a convergir com o Ocidente numa altura em que muitos outros mercados emergentes ainda não conseguiram”.
Os salários médios por hora na China triplicaram entre 2005 e 2016, e passaram para 3,60 dólares por hora (aproximadamente 3,41 euros), de acordo com o Euromonitor. Durante o mesmo período os salários por hora caíram de 2,90 dólares para 2,70 dólares no Brasil (aproximadamente 2,55 euros) e de 2,20 dólares para 2,10 dólares no México (cerca de 1,98 euros). Na África do Sul regista-se uma situação semelhante: de 4,30 dólares por hora, os sul-africanos passaram a ganhar 3,60 dólares em 2016 (aproximadamente 3,40 euros).
Os salários chineses ultrapassaram os da Argentina, Colômbia e Tailândia, durante o mesmo período de tempo. O país começou a regular-se pela economia internacional desde que foi admitido na Organização Mundial do Comércio, em 2001, lembra o FT, mas este não é a única explicação. “Os ordenados na China têm crescido desde que o país se juntou à Organização Internacional do Trabalho”, diz Alex Wolf, economista, especialista em mercados emergentes da Standard Life Investments ao FT.
A análise do Euromonitor compilou a informação fornecida pela Organização Internacional do Trabalho, pela Eurostat e pelas agências estatísticas nacionais. As unidades monetárias foram posteriormente convertidas ao dólar e procedeu-se a ajustes consoante a taxa de inflação. No entanto, esta análise deixou de fora variáveis como o custo de vida de cada país.
O aumento dos salários na China contrasta com o declínio de outros países – como a Argentina e o Brasil. Até na Índia, que teve um crescimento económico rápido, os salários estão congelados desde 2007, nos 0,70 dólares por hora (ou seja, 0,66 euros por hora).
Os salários médios em Portugal desceram de 6,30 dólares por hora para 4,50 dólares (4,25 euros) no ano passado. Actualmente encontram-se abaixo dos salários praticados em países da Europa de Leste e fazendo com que sejam 25% superiores aos chineses.
Oru Mohiuddin, analista de estratégia na Euromonitor, notou que o nível de produtividade dos chineses cresceu ainda mais do que os seus salários: “É preciso colocar a [inflação dos salários] em contexto”, explica ao FT.
A analista acredita que a China vai constituir “20% do mercado mundial em 2020, igualando a América do Norte e a Europa ocidental”. A acontecer, será uma quota de mercado superior aos 4,8% da Índia e aos 3,3% do Brasil. Mas Charles Robertson, da Renaissance Capital, notou que o envelhecimento da população chinesa e a redução esperada da população em idade activa pode significar um aumento da pressão salarial em anos vindouros.