Líder taliban pede aos afegãos para plantarem árvores
“Se a cultura das plantas e a plantação de árvores cessar é a própria vida que ficará ameaçada”, diz o mullah Akhundzada nesta "mensagem especial".
As mensagens dos rebeldes taliban costumam servir para reivindicar ataques ou exigir a retirada das tropas estrangeiras que ainda permanecem no país. Mas uma rara declaração atribuída ao líder do grupo, mullah Haibatullah Akhundzada, recorda este domingo que a Primavera está a chegar, apelando aos seus partidários para “plantarem árvores”, fundamentais “para a protecção do ambiente, o desenvolvimento económico”.
Apresentada como “uma mensagem especial” do chefe dos “estudantes de teologia”, a declaração atribuída ao mullah Akhundzada foi divulgada no site do movimento Voz da Jihad.
“Agora que a Primavera se aproxima, os mujahedin [combatentes] e todos os indivíduos são chamados a plantar uma ou várias árvores, de fruto ou não, em benefício da Terra e à glória de Alá, o poderoso”, afirma o mullah, mais conhecido pelas suas credenciais religiosas do que militares. “Se a cultura das plantas e a plantação de árvores cessar é a própria vida que ficará ameaçada”, sublinha.
Habitualmente, Março ou Abril são os meses em que os taliban anunciam a sua “ofensiva da Primavera”, quando o fim do duro Inverno afegão permite aos combatentes moverem-se pelo país e lançarem ataques armados contra o Governo apoiado pela NATO.
“Comecem por parar de plantar os explosivos que todos os dias matam tantos afegãos, incluindo mulheres e crianças”, respondeu no Twitter o porta-voz do Ministério do Interior de Cabul, Sediq Sediqqi. Um colaborador do Presidente Ashraf Ghani, Shah Hussain Murtazawi, descreveu a declaração dos taliban como uma tentativa para distrair os afegãos “dos seus crimes e destruição”.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 11.500 civis foram mortos ao longo de 2016 em confrontos entre as forças do Governo e grupos de rebeldes, principalmente taliban. A ONU atribui dois terços das vítimas aos homens do mullah Akhundzada.
A verdade é que o Afeganistão tem graves problemas de deflorestação, com as poucas árvores que sobreviveram a décadas de conflito a serem cortadas ilegalmente para aquecimento ou venda da madeira. E também é verdade que os taliban são conhecidos por assegurar serviços básicos, não apenas pela violência. Afinal, o grupo governou grande parte do país entre 1996 e 2011, quando foi expulso do poder pela intervenção lançada pelos Estados Unidos em resposta aos atentados de 11 de Setembro (e ao refúgio que os líderes taliban ofereciam então à hierarquia da Al-Qaeda).
O actual emir dos taliban afegãos assumiu o cargo depois da morte do mullah Mansour, no ataque de um drone americano em Maio do ano passado. Desde Setembro que Akhundzada não divulgada qualquer declaração.