Os visitantes procuram a Lisboa "centro do mundo", a polémica é questão lateral

A Cidade Global - Lisboa no Renascimento inaugurou sexta-feira, enquanto continuava o debate em volta da datação de dois dos quadros nela expostos. Na tarde de Sábado, os visitantes procuravam uma cidade que não conheciam. A polémica fica "para os historiadores e especialista de arte".

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O Martírio de São Sebastião, de Gregório Lopes, é um quadros expostos em A Cidade Global Jornal Público
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A exposição inagurou esta sexta-feira e estará patente até 9 de Abril Jornal Público
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Na tarde de Sábado, os visitantes procuravam descobrir a cidade que era, há quinhentos anos, "o centro do mundo", com a polémica recente como questão lateral. Jornal Público
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A exposição inagurou esta sexta-feira e estará patente até 9 de Abril Jornal Público
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Na tarde de Sábado, os visitantes procuravam descobrir a cidade que era, há quinhentos anos, "o centro do mundo", com a polémica recente como questão lateral. Jornal Público
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A exposição inagurou esta sexta-feira e estará patente até 9 de Abril Jornal Público
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A curiosidade perante os livros expostos, suas gravuras desconhecidas e autores cujo nome provocava surpresa: "Olha o Chiado!" Jornal Público
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A Vista da Praça do Rossio, de autor desconhecido. Jornal Público
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Na tarde de Sábado, os visitantes procuravam descobrir a cidade que era, há quinhentos anos, "o centro do mundo", com a polémica recente como questão lateral. Jornal Público

Os olhos da mãe estão concentrados na metade inferior do quadro, na Praça do Rossio renascentista, com o monumental Hospital de Todos os Santos em destaque, cortejo fúnebre a atravessar a praça e um condenado a sofrer as sevícias da justiça. Procura pontos de contacto com aquela mesmo praça cinco séculos depois, na Lisboa de 2017. A seu lado, o filho criança tem outras preocupações. Quer saber quantas nuvens preenchem o céu azul pintado naquele Vista da Praça do Rossio de autor desconhecido. Apostamos que nada lhe diz a polémica que tem rodeado A Cidade Global – Lisboa no Renascimento, a exposição inaugurada esta sexta-feira no Museu Nacional de Arte Antiga MNAA, em Lisboa, e que estará patente até 9 de Abril.

A polémica prende-se com a a autenticidade de duas obras, Rua Nova dos Mercadores e Chafariz D’El Rey, cuja datação vem sendo alvo de debate entre historiadores, conservadores de arte e investigadores (no caso da segunda, a discussão é longa de duas décadas). Honório Gomes, 63 anos, está precisamente a comentar o cenário que se nos apresenta em Chafariz D’El Rey, com as gentes diversas retratadas e os edifícios nele desenhados. “Naturalmente” consciente da polémica, não tem posição sobre a discussão. "Deixo-a para os historiadores e especialistas de arte”. Interessa-lhe aqui descobrir a “cidade global” que a exposição tem para revelar, um conceito que, comenta, está aberto a discussão, principalmente se o virmos à luz da leitura que dele fazia “o antigo regime, com a ideia do luso-tropicalismo”.

Entre os visitantes abordados pelo PÚBLICO, a polémica era uma questão lateral. António Dias, 55 anos, entrou no MNAA após sugestão da esposa, que o pôs a par do caso no caminho para o museu. Lisboeta e filho de lisboetas – “o que não é assim tão comum em pessoas da minha geração”, comenta –, quis vir descobrir esta “cidade diferente que era o centro do mundo” “um pouco como sucede agora, por causa do turismo, em que Lisboa não sendo o centro do mundo, também acolhe gente de todas as proveniências”. Divertido, comenta o realismo das gravuras representando animais exóticos que vira numa das salas. “Muito fidedignos e com o mesmo realismo das que", na mesma sala, "representam unicórnios”.

 Ao início da tarde de sábado, o intenso debate a correr na imprensa não tem repercussão nas salas do MNAA. Os visitantes, com tempo e espaço para a lenta deambulação, demoram-se junto aos quadros, olham o rosto beatífico do santo cujo tronco sofre as flechas disparadas com besta e arco, no Martírio de São Sebastião de Gregório Lopes, vêem sentados nos bancos o vídeo que contextualiza a exposição, surpreendem-se com a autoria d’Auto das Regateiras – “olha o [António Ribeiro] Chiado!” –, comentam os olhos rasgados da Virgem com Menino criada na China ou as dimensões do rinoceronte que Muzufar, sultão de Guzarate, ofertou a D. Manuel I, esse que os lisboetas de quinhentos viam banhar-se no Tejo e que Albrecth Dürer imortalizou em tela.

Ana Maria e Francisco Marques Fernando, 66 e 73 anos, já analisaram gravuras que desconheciam em vários dos livros expostos, admiraram os mapas cartográficos e deliciaram-se com essa curiosidade que é ver a Lisboa do passado pelos olhos de outros – principalmente, referem, os pintores flamengos. Estão de visita a A Cidade Global para cumprir um hábito. “Gostamos de visitar museus”. Não é o caso de Ludivine e de Thomas Filloque. O jovem casal (têm ambos 26 anos) veio com um propósito definido. “Viemos por isto”, diz Ludivine, historiadora de arte, enquanto aponta para o Cofre Relicário contendo as relíquias do Mártir São Vicente. No dia anterior, haviam passado pela Sé de Lisboa e encontraram vazio o lugar da relíquia que procuravam, semelhante, mas com maiores dimensões, a uma que Ludivine muito aprecia e que se encontra no Louvre. Vieram ver o Cofre Relicário ao MNAA e acabaram a fazer paralelismos com outras realidades. “Vimos recentemente em Paris uma exposição de arte exótica, sobre a influência da arte africana no Ocidente e vice-versa”. Ficou-lhes na memória um saleiro do Benim. “Já vimos aqui um semelhante. É curioso ver como tudo se liga”, comentam. Cidade global, mundo globalizado.

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