México manifesta "preocupação e irritação" aos EUA

Na visita dos secretários de Estado e de Segurança Interna americanos, o Governo mexicano reagiu com dureza às políticas levadas a cabo pela Administração Trump.

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A conferência de imprensa conjunta entre os responsáveis mexicanos e americanos LUSA/JOSE MENDEZ

O México expressou nesta quinta-feira “preocupação e irritação” sobre as políticas da Administração Trump. O reparo foi feito durante a visita de Rex Tillerson e John Kelly, secretários de Estado e de Segurança Interna, respectivamente. Ficou assim dada a resposta do Governo mexicano, presencialmente, às políticas de imigração, comércio e segurança defendidas e levadas a cabo pelo Presidente americano.

O chefe da diplomacia norte-americana e o responsável pela segurança interna do país, Rex Tillerson e John Kelly, chegaram ao México para “reactivar” a relação bilateral e mitigar os danos provocados pelas políticas e os tweets provocatórios do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – que antes de cumprir uma semana de mandato já tinha inventado um braço-de-ferro com Enrique Peña Nieto que se transformou numa crise diplomática com potencial para desestabilizar as relações do país com o resto da América Latina.

Mas as expectativas de uma normalização diplomática esfumaram-se na véspera da partida de Kelly e Tillerson. Numa nova alfinetada ao vizinho do Sul – ou mais uma prova de desorganização interna – a Administração norte-americana decidiu tornar público o seu “plano de execução” da polémica directiva assinada por Trump em nome da segurança da fronteira e do combate à imigração ilegal, que passa pelo endurecimento das acções de detenção e deportação de estrangeiros sem visto de residência e trabalho. Nenhum dos cerca de cinco milhões de mexicanos clandestinos nos EUA pode, a partir de agora, dormir tranquilo, com o espectro da expulsão a pairar sobre si e a sua família. Aliás, antes de seguir para o México, John Kelly parou na Guatemala para assistir ao desembarque de um voo de repatriamento de imigrantes – o recado não podia ser mais óbvio.

Além disso, o Governo mexicano não gostou das notícias que davam conta de que a Administração americana estava a planear a deportação para o México de imigrantes indocumentados, independentemente da sua nacionalidade.

“Existe entre os mexicanos preocupação e irritação sobre o que são as políticas que podem ser prejudiciais para o interesse nacional dos mexicanos aqui e lá fora”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano, Luis Videgaray, durante uma conferência de imprensa conjunta após uma reunião com os responsáveis americanos. Tillerson e Kelly reuniram-se ainda com o Presidente do México, Enrique Peña Nieto.

Kelly e Tillerson foram mais comedidos do que Trump tem sido nas palavras acerca das tensões entre os países vizinhos. Kelly garantiu que não irá ser utilizada “a força militar nas operações de imigração” e garantiu que não vão ser realizadas deportações em massa: “Não, repito, não”, disse.

Afirmando que as relações entre México e Estados Unidos vivem “tempos complexos”, Videgaray disse que para ultrapassar as divergências é preciso construir uma relação baseada na confiança e na amizade.

“Não há dúvida de que o estado de Direito interessa a ambos os lados da fronteira”, afirmou, por sua vez, Tillerson. Nenhum dos dois responsáveis americanos se referiu directamente ao suposto plano de deportação de imigrantes, de outras nacionalidades, para o México ou à intenção de Trump de fazer com que o México pague a construção do muro ao longo da fronteira.

O ministro do Interior mexicano, Osorio Chong, também apelou à normalização das relações entre os dois países: “O México precisa dos EUA, e os EUA também precisam do México. Os nosso países serão sempre vizinhos, por isso o melhor seria ter acordos que resultem para ambas as partes, de forma equilibrada”.