O regresso das obras milionárias à Arco Madrid
Na grande feira de arte contemporânea de Espanha há peças que ultrapassam o milhão de euros. Como tinha prometido o seu director, é um sinal da confiança com que os agentes voltaram a olhar para a Arco. Para já, algumas galerias portuguesas parecem satisfeitas.
Em frente a um dos famosos espelhos côncavos de Anish Kapoor está uma protecção metálica do tipo das que normalmente vemos presas ao chão nos museus. Apesar de se chamar Mirror (Pink to Organic Green and Black), a escultura é feita em aço e as protecções são um standard para peças de um determinado valor – neste caso, 622 mil euros.
A presença do artista britânico e o regresso da galeria Lisson à Arco Madrid depois de anos de ausência têm sido dados como um dos exemplos de que este é o ano de recuperação desta feira de arte contemporânea que junta 200 galerias até domingo na cidade espanhola. Depois de no ano passado ter participado na edição especial do 35.º aniversário, a galeria de Londres manteve-se na feira e chegou com pesos pesados como Kapoor ou Ai Weiwei. O mesmo se pode dizer da Hauser & Wirth, que já não vinha à feira desde 2009, e que trouxe para vender uma obra de um nome fundamental como Louise Bourgeois, intitulada La Maladie de l’Amour (preço sob consulta).
Mas é numa galeria espanhola, a Guillermo de Osama, que estará um dos recordes da feira, com uma pintura do uruguaio Joaquín Torres-García, à venda por 1,8 milhões de euros. Mesmo ao lado, na Leandro Navarro, também especializada em vanguardas históricas, há um Salvador Dalí por 1,4 milhões. Uma escultura do espanhol Juan Muñoz, três dos seus homens sorridentes suspensos numa parede, encontra-se à venda por 1,5 milhões de euros na galeria Elvira González.
Carlos Urroz, o director, tinha dito em Lisboa que a Arco Madrid iria voltar a ter, pela primeira vez depois da crise, peças a pensar nos museus ou nas grandes colecções institucionais, para lá do coleccionador espanhol. E cá estão elas, obras de encher o olho, como a Esfera Branca, de Julio Le Parc, um histórico da op art e da arte cinética argentina, na brasileira Nara Roesler – uma peça que atinge os 350 mil euros, segundo disse ao PÚBLICO o filho do artista. Tal como o trabalho dos cubanos Los Carpinteros, Domo Hexagonal (150-200 mil dólares), faz parte dos projectos especiais que têm exactamente como objectivo trazer à feira peças de grande formato ou mais arriscadas.
É neste programa que se encontra Lady Susan, do português Alexandre Estrela, uma vídeo-instalação projectada sobre uma estrutura em madeira. Victoria Solano, directora da espanhola Travesía Cuatro, explica que a peça tem tido alguma atenção, na sequência da exposição do artista no Museu Rainha Sofia, no ano passado. Entre as peças portuguesas que chegam aos 300 mil euros está uma obra histórica de Helena Almeida na galeria espanhola Helga de Alvear, Tela Habitada (16 fotografias), de 1972; uma pintura de Paulo Rego de 2010 à venda na Marlbourgh de Madrid ultrapassa os 400 mil.
A pensar nos museus
José Ignacio Abeijón, da galeria Guillermo de Osama, diz que será óptimo se a feira seguir a esta velocidade: “Mas prefiro esperar que termine. As instituições estão um pouco melhores, mas não há museus em Espanha para peças de 1,8 milhões. É uma peça a pensar num museu estrangeiro.” Esperar pelo fim é o que também quer fazer Eladio Verdugo, da Elvira González. A francesa Lelong, que tem desenhos feitos em iPad por David Hockney nos projectos especiais, conta que há uma boa resposta e que as coisas estão correr bem. Mais pessoas do que no ano passado, nota Victoria Solano, tal como Helga de Alvear, muito optimista, e atribuindo o sucesso do seu stand à visibilidade que lhe deu o Prémio de Coleccionismo A atribuído este ano pela Arco.
Catalina Lozano, uma das comissárias do programa Diálogos, explica no encontro com a imprensa estrangeira que esta secção especial privilegia 12 galerias que trabalham muito de perto com os artistas. Ao PÚBLICO, Lorena Martínez de Corral, outras da comissárias, que tem trabalhado com artistas portugueses, explica a ausência de galerias nacionais na secção com mais visibilidade na feira: terão o seu momento na Arco Lisboa, já em Maio. O facto de já terem sido seleccionadas para o programa geral (dez estão no programa normal, as outras três na secção das jovens galerias) deixou-as de fora dos projectos especiais, justificou ainda.
Há uma forte presença nos Diálogos da Argentina, este ano o país convidado, através dos artistas que trabalham com galerias no estrangeiro: David Lamelas, Victor Grippo, Irene Kopelman, Eduardo Navarro, Jorge Macchi, Tomás Sarraceno e Julio Le Parc. Na Alexander and Bonin, de Nova Iorque, a galerista Carolyn Alexander trouxe várias peças do histórico Victor Grippo. “O interesse é muito grande. É considerado um verdadeiro herói em termos de arte conceptual.” Para uma das peças, Proposta para uma série um tanto apocalíptica, de 1972, à venda por 275 mil dólares, a galerista nova-iorquina está à espera de um museu. “Não sei qual é a situação dos museus espanhóis. Pode não ser vendida agora, mas mais tarde. Mas é importante trazer as peças e dizer que as temos.”
Iñigo Navarro Valero, da Leandro Navarro, diz que os orçamentos públicos ainda não recuperaram, mas quarta-feira foi “um dia muito dinâmico, cheio de bons coleccionadores”. Algumas galerias portuguesas estavam satisfeitas, com vendas para colecções na América Latina, e também se registaram aquisições de artistas portugueses nos stands estrangeiros.
Quinta-feira foi também o dia em que o glamour chegou à feira, com a inauguração oficial na presença dos reis de Espanha e do Presidente da Argentina, Mauricio Macri, e da sua mulher, Juliana Awada, símbolo de uma nova aproximação.
O PÚBLICO viajou a convite do Turismo de Espanha