Gravações originais de Zeca Afonso estão em lugar incerto mas há masters novas a salvo

Masters originais da Orfeu podem estar fora do país. Mas a maior parte da obra de José Afonso está a salvo em novas masterizações.

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Adriano miranda

A notícia foi dada pela Antena 1, na manhã de quinta-feira: os masters de grande parte da obra de José Afonso, mas também de muitas outras gravações originais pertencentes a Adriano Correia de Oliveira ou leituras de poesia por Miguel Torga ou Sophia, podem estar nos Estados Unidos na sequência da sua possível venda pela Movieplay.

No dia em que se assinalaram os 30 anos da morte do cantautor José Afonso, a rádio pública noticiou que, pelo menos desde 2008, é desconhecido o paradeiro dos masters, os registos de estúdio originais, já que um processo de insolvência datado desse ano permitiu perceber que os masters “teriam sido vendidos a uma empresa estrangeira”. Porquê tal conclusão? Porque, na sequência de um processo movido pelo cantor e compositor Fausto Bordalo Dias aquela editora, pedindo a penhora dos masters das suas próprias gravações, a resposta foi que teriam sido vendidas. E poderiam, citando a Antena 1 “fontes próximas do processo”, ter ido parar a um “apartado offshore” em Delaware, nos EUA. No entanto, o advogado Francisco Teixeira da Mota, que representou Fausto naquele processo, disse à Antena 1, e depois ao PÚBLICO, que a factura apresentada como prova da venda não discriminava masters ou gravações específicas, pelo que a dúvida persiste. Há, entre técnicos contactados pelo PÚBLICO, quem sugira até que os referidos masters podem estar ainda num armazém em Alcântara.

Alcântara foi, aliás, o local das últimas instalações da empresa, antes da sua falência. Criada em 1977, em Lisboa, a Movieplay Portuguesa comprou posteriormente os catálogos da Rádio Triunfo e Orfeu (onde José Afonso gravou grande parte dos seus discos). A ela estiveram ligadas empresas como a Sonovox, Sonovis, Copisom, EuroClube ou os estúdios Namouche. Num processo que antecedeu a falência, usou os nomes LX Editora e Art’Orfeu Media e teve uma loja de venda de discos no espaço da LX Factory, em Alcântara, Lisboa, um dos possíveis paradeiros do seu espólio musical, no todo ou em parte. O PÚBLICO tentou, durante toda a quinta-feira, contactar o antigo administrador da Movieplay, João Serafim, mas sem sucesso.

Originais e cópias

No caso de José Afonso, recorde-se que os onze discos que gravou entre 1968 e 1981, de Cantares do Andarilho a Fados de Coimbra e Outras Canções, foram reeditados entre 2012 e 2013 com o antigo selo Orfeu (ressuscitado antes da falência da empresa), pelo que os novos masters então produzidos se mantêm a salvo, caso se avance (e haja consentimento legal) para a sua reedição. Os restantes discos de José Afonso são de outras editoras e foram também já reeditados, caso de Baladas e Canções, Como se Fora seu Filho ou Galinhas do Mato.

Tó Pinheiro da Silva, responsável pela restauração e remasterização dos álbuns citados, lamenta que não haja em geral grande preocupação das editoras com o seu património. E dá como excelente exemplo o dos estúdios de Abbey Road, onde as gravações são tratadas como tesouros. Nos álbuns de José Afonso reeditados com o selo Orfeu, ele lidou já com cópias digitais. E estas, confirmou o PÚBLICO junto de outro técnico de som que na altura trabalhou na Namouche, foram feitas a partir de outras cópias. As masters originais, ele recorda-se de as ter visto em 1991/2, quando a Movieplay quis editar cassetes com as gravações de José Afonso. Mas foi a última vez. O trabalho feito com as novas masterizações permite, no entanto, garantir a sobrevivência futura de grande parte da obra de José Afonso, estejam onde estiverem os masters originais do que ele gravou: no estrangeiro ou algures em Portugal.

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