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Um debate de tricas, irritações, queixas e outras histórias

Acentuou-se o mal-estar entre a direita e Ferro Rodrigues quando Cristas disse que vai fazer queixas a Belém.

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Passos protagonizou uma discussão tensa com o primeiro-ministro, a propósito do caso dos 10 mil milhões de euros transferidos para paraísos fiscais sem intervenção do fisco LUSA/MÁRIO CRUZ
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CDS, aqui por Nuno Magalhães, disse ao presidente da Assembleia da República que escolhe com quem fala. E que vai mesmo a Belém queixar-se de um boicote aos direitos da oposição no Parlamento LUSA/MÁRIO CRUZ
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Costa garantiu que o Estado não perderá qualquer parcela dos 3900 milhões injectados no Fundo de Resolução do Novo Banco LUSA/MÁRIO CRUZ

Foi um debate de “tricas” e “irritações”, com muita picardia política e poucas novidades, dominado pelo caso dos 10 mil milhões de euros transferidos para offshores. Mas nas duas horas e meia de acesa discussão, ainda houve espaço e argumentos para a anterior administração da Caixa, para a central nuclear de Almaraz e até para o verniz estalar entre o CDS e Eduardo Ferro Rodrigues – Assunção Cristas anunciou que esta sexta-feira vai a Belém falar com o Presidente “para denunciar” o que “de grave” se anda a passar no Parlamento, ou seja a forma como a “maioria de esquerda unida oprime a direita”.

Ao que o PÚBLICO apurou, esse anúncio não apanhou desprevenido o PSD. O partido foi informado desta iniciativa do CDS, mas para já não irá seguir o mesmo caminho. Cristas referia-se aos episódios em torno das comissões de inquérito à Caixa, em que PSD e CDS têm aparecido unidos. Eduardo Ferro Rodrigues sentiu-se atacado: “Não sei o que a senhora deputada vai denunciar ao senhor Presidente da República, mas sabe que a porta do meu gabinete está sempre aberta a todos os deputados.”

A líder do CDS ficou visivelmente irritada, mas quem saiu em sua defesa foi o líder parlamentar. Nuno Magalhães lembrou que o CDS “escolhe com quem fala” e que PSD e CDS se queixaram sobre o que estava a acontecer na comissão de inquérito à CGD, o que Ferro Rodrigues considerou ser um “mau serviço à democracia”. O dirigente centrista vincou: “Desculpe que lhe diga, quem fechou a porta na cara ao PSD, ao CDS e às regras democráticas foi o senhor presidente”. Ferro Rodrigues fez questão de lembrar aos deputados a “separação de poderes”, entre o Parlamento e o Presidente.

Também Pedro Passos Coelho se irritou com António Costa, para quem gritou, sentado, de microfone desligado e de dedo em riste, depois de o primeiro-ministro ter acusado o anterior Governo de “poupar” quem levou 10 mil milhões para os paraísos fiscais e ter sido “implacável” a penhorar casas e a cobrar multas das portagens. Uma “acusação inadmissível” e “insinuação de baixo nível”, gritou Passos.

Os dois já vinham de um aceso duelo, em que Passos gastou o seu tempo de intervenção antes de Costa e este acabou por ter a última palavra. O primeiro-ministro insistiu na ideia de Passos ser um “pessimista irritado” com os sucessos do Governo e só estar interessado nas “tricas dos SMS” da Caixa – “É o grau zero da política chegar à bisbilhotice”. À pergunta sobre se a CGD pagou os advogados do ex-presidente da administração, Costa disse desconhecer e não interferir nas empresas públicas para saber “quanto cobram ou pagam”. E sobre as declarações de rendimentos repetiu que foi sempre seu entendimento que estas eram para entregar.

Sobre o Novo Banco, Costa garantiu a Catarina Martins que “em caso algum o Estado perderá 3900 milhões ou qualquer parcela dos 3900 milhões” que emprestou ao Fundo de Resolução para serem injectados no Novo Banco, cabendo ao sistema financeiro, em último caso, suportar esse valor. “Não haverá concessão de garantias por parte do Estado”, insistiu o primeiro-ministro, mas Catarina avisou que se vai “perder dinheiro duas vezes” com o banco, ao vendê-lo a um “fundo abutre”.

E sobre Almaraz, Costa disse ao PEV que o acordo com Espanha visa conseguir a “colaboração” do país, contra o qual não deixa de ser possível reapresentar queixa em Bruxelas.

Do debate ficam ainda algumas novidades e promessas: ao PCP, o Governo disse que a actualização do abono de família será paga com retroactivos em Março e, se houver desvios face aos critérios estabelecidos, será corrigida a lista de casas a abater na ria Formosa; ao PAN, o executivo adiantou que será publicada em Março a regulamentação da lei que proíbe o abate de animais de companhia.

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