Até à Feira da Ladra se foram buscar pedacinhos do pavilhão Carlos Lopes
Cerca de 300 peças do campeão olímpico vão estar em exposição permanente. Um ano e 8 milhões de euros depois, pavilhão está preparado para ser palco de eventos culturais, congressos e exposições.
Foram pintadas as paredes, reforçadas as fachadas, reunidos e restaurados os azulejos — centenas deles encontrados na Feira da Ladra. Tudo devolvido ao Pavilhão Carlos Lopes. 14 anos depois de ter sido dotado ao abandono, o pavilhão reabre hoje após um ano de obras de reabilitação que trouxeram de volta “a dignidade ao espaço”, encerrado desde 2013 por falta de condições de segurança. Di-lo Vítor Costa, director-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), entidade encarregada da reabilitação.
As fachadas mantêm-se brancas e amarelas. Dentro, todas as paredes são também da cor da cal. Na quinta-feira, quando o PÚBLICO visitou o espaço, colocavam-se as últimas peças de um enorme puzzle de azulejos em tons de azul. Todos restaurados manualmente por artesãos de Viana do Castelo. Os mesmos que refizeram os ornamentos das paredes e das colunas do edifício.
Desde 2013, foram estudados vários usos para o espaço. Esteve em cima da mesa a criação de um museu do desporto ou centro de congressos. Nenhuma avançou. Agora o Pavilhão Carlos Lopes é, no verdadeiro sentido da palavra, um pavilhão multiusos: preparado para receber eventos culturais e corporativos, congressos e exposições. Na agenda está a próxima edição do festival gastronómico Peixe em Lisboa, nos dias 30 de Março a 9 de Abril, e a Moda Lisboa, em Outubro.
Tem cinco foyers (átrios juntos às escadas), um salão nobre e uma sala de eventos com capacidade para dois mil lugares sentados. Esta última, a sala principal do pavilhão, foi a mais intervencionada com vista à sua modernização: desapareceram as antigas bancadas, assim como o piso. “Estavam num estado muito avançado de degradação. Estava tudo muito próximo de cair”, refere Vítor Costa. O tecto, até então de amianto, foi substituído.
“Foram introduzidas na sala condições de segurança, de acesso a deficientes, ventilação e acústica. Hoje está preparada para receber vários tipos de eventos”, prossegue o director-geral da ATL. É nesta sala que tem lugar, este sábado, a cerimónia de reabertura, com o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
O que não quer dizer que não haja espaço para o desporto: o pavilhão tem balneários e cabines de árbitros prontos para voltar ao activo. O espaço está ainda dotado com salas de apoio e espaço para catering.
Também a melhoria da acessibilidade foi uma das prioridades. O edifício tem novos acessos e caminhos pedonais recuperados que o “aproximam do parque e da Avenida.” Há escadas, incluindo rolantes, pela Avenida Sidónio Pais, junto à estação de metro, e para o Parque Eduardo VII. Desapareceu, ainda, o parque de estacionamento que separava o pavilhão do parque.
Obra de 8 milhões de euros
Desde este domingo até 19 de Março, o pavilhão está de portas abertas aos visitantes. Em exposição permanente estão cerca de 300 peças do campeão olímpico que dá nome ao pavilhão, entre as quais os seus troféus e medalhas. A entrada é livre.
A intenção da ATL é depois “explorar comercialmente” as várias salas do pavilhão, alugando-os para eventos. Já esta quinta-feira, os associados da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (Apecate) visitaram o espaço.
Ainda assim, o director-geral da ATL afirma que o objectivo primeiro desta requalificação foi a “preservação da memória histórica do espaço”. Falamos de um pavilhão com a particularidade de ter cruzado o Atlântico. Erguido no Brasil para a Grande Exposição Internacional do Rio de Janeiro no início dos anos 20, foi reconstruído mais tarde em Lisboa. Em Outubro de 1932 abria portas como Palácio das Exposições, desta feita para a Grande Exposição Industrial Portuguesa. Quinze anos depois foi adaptado para receber eventos desportivos.
A ligação ao desporto começou aí, com Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins de 1947. Em 1984 mudava de nome, em homenagem ao campeão olímpico.
As obras custaram à ATL perto de 8 milhões de euros — meio milhão a menos que o previsto, salienta Vítor Costa. Mais de metade (56%) deste valor foi financiado pelas contrapartidas iniciais do Casino de Lisboa. Já no decreto-lei de 2003, que permitiu a instalação do casino em Lisboa, se previa a entrega de 4,6 milhões de euros para as futuras obras do Pavilhão Carlos Lopes. Estas verbas foram atribuídas à Turismo de Portugal e alocadas para a obra de recuperação, 14 anos depois.