Almaraz: central nuclear diz que visita foi cancelada porque portugueses alteraram objectivos

Ordem dos Engenheiros portugueses disse ter sido avisada na segunda-feira, já durante a viagem para Espanha, do cancelamento da visita, “sem que tenham sido apresentadas as razões subjacentes a tal decisão”.

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Em 16 de Janeiro último, Portugal apresentou à Comissão Europeia, em Bruxelas, uma queixa relacionada com a decisão espanhola de construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz NUNO VEIGA/LUSA

A entidade gestora da central nuclear de Almaraz explicou nesta terça-feira que cancelou a visita de um grupo da Ordem dos Engenheiros portuguesa porque esta entidade alterou os objectivos inicialmente estabelecidos para a deslocação.

Fonte da central de Almaraz explicou à agência Lusa que “há dezenas de visitas anualmente de cortesia e de carácter técnico” geral, para explicar às mais diversas entidades “o que é e como funciona uma unidade nuclear de produção de electricidade”.

Segundo a mesma fonte, a Ordem dos Engenheiros Portugueses pretendia “investigar” as condições de prolongamento da central e a construção do aterro nuclear “e isso não era o tema da visita”.

A visita marcada através do Conselho Geral dos Colégios Oficiais de Engenheiros Industriais de Espanha foi, assim, cancelada depois dos dirigentes de Almaraz se terem apercebido que os portugueses estavam a tornar públicos objectivos “que não tinham nada a ver com o objectivo inicial”.

Nesta terça-feira, em comunicado, a Ordem disse ter sido avisada na segunda-feira, já durante a viagem para Espanha, do cancelamento da visita, “sem que tenham sido apresentadas as razões subjacentes a tal decisão”.

“A notícia foi recebida com total surpresa por parte da Ordem dos Engenheiros, cuja delegação integra altos dirigentes, membros eleitos e engenheiros eméritos, nomeadamente o bastonário Carlos Mineiro Aires, os dois vice-presidentes nacionais, membros do Conselho Directivo Nacional, os Presidentes dos Colégios Nacionais de Engenharia Eletrotécnica e de Engenharia do Ambiente, o coordenador da especialização de Energia, um membro da Assembleia de Representantes e especialistas”, lê-se na nota de imprensa enviada à agência Lusa.

A Ordem diz ainda que, “neste quadro, manifesta a estranheza perante esta decisão, porquanto sempre ficou claro em todos os contactos que foram previamente estabelecidos que se tratava de uma visita de natureza técnica, cujo propósito assentava na recolha de informações sobre a operação da central, bem como das perspectivas de prolongamento do seu ciclo de vida e sobre a intenção de construção de um depósito de resíduos nucleares”.

“A Ordem dos Engenheiros de Portugal considera, assim, estar perante uma decisão inesperada, o que lamenta, cujas razões e motivações carecem certamente de uma justificação, pois a mesma contraria o são relacionamento e as normas de cooperação que devem pautar o relacionamento técnico entre entidades dos dois países, assim como a desejável transparência a nível da partilha de informação técnica, em nome da defesa do prestígio e da deontologia da engenharia ibérica”.

Os engenheiros portugueses também referem que, “dado o bom acolhimento do pedido que oportunamente formulou, nada faria perspectivar que a Ordem, “enquanto representante legal da capacidade técnica de um país e como associação profissional preocupada com a segurança dos portugueses e com os impactes transfronteiriços, pudesse ser confrontada com este desfecho imprevisível e, a partir de agora, questionável”.

O Ministério da Energia espanhol deverá, até ao fim do ano ou início de 2018, decidir se prolonga a actual licença de exploração da central de Almaraz, que caduca em Junho de 2020.

Em 16 de Janeiro último, Portugal apresentou à Comissão Europeia, em Bruxelas, uma queixa relacionada com a decisão espanhola de construir um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, sem avaliar o impacto ambiental transfronteiriço.

O Governo português defende que, no projecto de um aterro de resíduos junto à central nuclear de Almaraz, “não foram avaliados os impactos transfronteiriços”, o que está contra as regras europeias.

Os ambientalistas portugueses e espanhóis estão contra o prolongamento da licença de exploração de Almaraz e desconfiam que a decisão de construção desse aterro seja o primeiro passo para prolongar a vida da central para além de 2020.