IGCP vai emitir menos dívida através dos balcões dos bancos
Cristina Casalinho, presidente da agência que gere a dívida pública, diz que as emissões de OTRV serão mais pequenas este ano, tais como os valores.
No ano passado, o Estado inaugurou um novo produto de poupança, as Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), vendidas aos balcões dos bancos. Com três emissões, captou 3450 milhões de euros, contra os 3358 milhões de euros, líquidos, dos Certificados do Aforro e Tesouro. Ao todo, a receita chegou ao valor-recorde de 6808 milhões de euros. Este ano, no entanto, Cristina Casalinho, presidente do IGCP, a agência que gere a dívida pública, diz que haverá menos emissões de OTRV, e que o valor a arrecadar ao longo do ano também será menor. Quanto aos Certificados de Aforro, adianta que já se nota uma saída dos investidores devido ao fim do prémio que existia, mas que esses mesmos investidores, particulares, estão agora a apostar nos Certificados do Tesouro.
Para o IGCP, é importante a diversificação das fontes de receitas, o que, aliás, levou à introdução das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável, as OTRV. Assim, por que é que acabaram recentemente com os prémios nos Certificados de Aforro? Já há uma fuga de investidores da série C?
Nota-se um pouco.
Mas isso não choca com a estratégia de diversificação?
Era um risco que corríamos. Mas até agora verifica-se que saem dos Certificados de Aforro e entram nos CTPM [Certificados do Tesouro Poupança Mais]. Não há uma saída, o que se verifica é uma rotação. E um dos contributos que aumentámos na última apresentação aos investidores foi o do retalho. É que, além das substituições da série C por CTPM, houve muitas entradas líquidas.
A revisão em alta aponta agora para a angariação de dois mil milhões de euros até ao final do ano por via do retalho. Isso não acaba por ser um valor baixo, tendo em conta os 3,5 mil milhões do ano passado?
Resolvemos ser mais conservadores este ano. Por causa da expiração do prémio, e queremos ver até que ponto o sistema financeiro, os bancos, estão interessados em trabalhar connosco.
No âmbito das OTRV...
Exactamente. Acreditamos, e foi isso que os bancos disseram no ano passado, que há condições para que este produto tenha regularidade. Mas não estamos a pensar fazer volumes como os do ano passado.
Não estão?
Não.
Em número de emissões ou em valor?
Ambos. Quer uma coisa, quer outra. Dissemos que a ideia era uma ou duas vezes por ano, talvez uma por semestre, em volumes mais pequenos.
Então o retalho vai ter uma importância muito menor.
As nossas necessidades de financiamento também baixaram.
Mas para os bancos as OTRV não são um excelente negócio, em termos de comissões?
Acho que se não fosse assim, eles não estariam interessados em participar. Mas eu gosto é de pensar que é um bom negócio para ambos. Validou-se a nossa intuição, que era a de que havia uma camada de investidores onde ainda não tínhamos penetrado. Havia as Obrigações do Tesouro e os Bilhetes, para investidores profissionais, e depois tínhamos o retalho, com um…
… perfil mais conservador?
Mais conservador, e mais modesto. Nós sabemos os saldos médios das nossas contas, e percebemos que havia um miolo de investidores que ainda não estava captado.
Mas então por que é que não carrega mais nas OTRV, digamos assim?
É preciso ver se os bancos estão interessados ou não. Ainda não os abordámos de uma forma consistente nesse sentido.
E estão a pensar lançar um novo produto?
Acho que as OTRV são um produto bom, e que pudemos manter alguma regularidade. Há espaço para fazer outros, mas acho que as OTRV também podem ser exploradas.
Nomeadamente em termos de maturidade?
Sim. Nós sabemos que o prazo mais preferido tende a ser o de cinco anos, não muito mais longo.