World Press Photo: presidente do júri não aprova foto "de terror" vencedora
O fotógrafo Stuart Franklin considera que a imagem “promove a ligação entre martírio e publicidade”.
O presidente do júri da 60.ª edição do World Press Photo, Stuart Franklin, não concordou com a eleição de uma “imagem de terror” como foto do ano e afirma ter votado contra a sua escolha para a categoria principal.
O World Press Photo premiou este ano a fotografia que registou a expressão do assassino do embaixador russo em Ancara, tirada pelo fotógrafo Burhan Özbilici, da Associated Press, a 19 de Dezembro de 2016.
Num artigo de opinião publicado na manhã desta segunda-feira no site do jornal britânico The Guardian, o fotógrafo Stuart Franklin afirma que o impacto da foto é “inegável”, mas que a imagem “promove a ligação entre martírio e publicidade”.
"A fotografia de Özbilici é uma imagem de impacto, sem dúvida. Contudo, apesar de ter sido totalmente a favor de lhe atribuir o prémio de spot news [notícias locais], que também venceu, opus-me firmemente à sua escolha como fotografia do ano", declara o presidente do júri.
Stuart Franklin sublinha que a sua posição "não é que um fotógrafo bem-intencionado não receba os créditos que merece", mas traduz antes o seu "receio de que estejamos a amplificar uma mensagem terrorista através da publicidade adicional que o prémio principal atrai".
De acordo com o fotógrafo, foi a terceira vez que a cobertura de um assassinato ganhou o prémio. A mais célebre das três retrata a morte de um vietcongue, fotografada por Eddie Adams em 1968.
No entanto, Stuart Franklin sublinha que o assassinato em Ancara teve “consequências políticas limitadas” e que a imagem não promove empatia nem provoca mudança, não cumprindo assim o “real serviço à humanidade” de que a fotografia é capaz. "É a fotografia de um homicídio, o assassino e a vítima, ambos na mesma imagem. É tão problemática de publicar como uma decapitação terrorista", considera o fotógrafo.
A escolha da imagem vencedora da 60.ª edição do World Press Photo foi feita por um júri constituído por fotógrafos de vários países. Mary F. Calvert, uma das juradas, afirmava no comunicado em que o WPP divulga os premiados que “foi uma decisão muito difícil”. “É uma imagem explosiva que mostra verdadeiramente o ódio dos nossos tempos”, diz, referindo-se à fotografia do ano.
O debate sobre a publicação de imagens de assassinos não é novo. Em Julho do ano passado, por exemplo, o diário Le Monde decidiu não publicar fotografias dos assassinos no atentado que vitimou o padre Jacques Hamel, abrindo um debate entre os meios de comunicação semelhante ao que promove agora Stuart Franklin. O jornal francês argumentou, na altura, com a necessidade de “evitar eventuais efeitos de glorificação póstuma”.
O PÚBLICO dedicou um editorial ao tema – "Estaremos a ajudar a criar assassinos?" –, admitindo existir “um argumento sensível e compreensível para tais decisões: nos países onde estes atentados ocorrem, a difusão do rosto e nome dos autores pode corresponder ao seu desejo de 'glorificação' do crime, tido por martírio guerreiro”.