Júlio Pomar disponível para refazer murais do cinema Batalha
Revelação feita por Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto.
O pintor Júlio Pomar garantiu ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, estar disponível para refazer os frescos que criou para o cinema Batalha, com apenas 20 anos, e que foram cobertos por ordem da polícia política do governo de António de Oliveira Salazar, logo em 1948, o ano seguinte ao da inauguração do edifício que o município vai gerir. Numa carta enviada ao autarca, a que o PÚBLICO teve acesso, o artista de 91 anos, diz ter recebido o pedido de Moreira com "grande alegria" e diz estar "ao dispor" para "tudo o que for preciso".
A carta tem a data de 15 de Janeiro e surge em resposta à proposta que lhe foi feita por Rui Moreira, três dias antes, para "refazer os frescos que criou em finais da década de 40 para o cinema" - o mesmo dia, curiosamente, em que foi noticiado que o pintor se encontrava hospitalizado.
A anuência de Júlio Pomar levou Moreira a anunciar à Assembleia Municipal do Porto, na noite desta segunda-feira, que o pintor "refará os frescos" do Batalha. "Não nos resignamos ao que aconteceu e vamos repor também os [baixo-relevos] exteriores. Vamos municipalizar a foice e o martelo", ironizou o autarca, em referência ao trabalho também censurado de Américo Soares Braga.
O presidente da Câmara do Porto falava durante a discussão da proposta que vai permitir que a câmara alugue e gira o cinema do centro da cidade durante 25 anos, e que seria aprovada por unanimidade. Em resposta a algumas dúvidas dos deputados, Rui Moreira explicou que o edifício irá manter, após a reabilitação, a sala maior para exibição de filmes (mas, provavelmente, já sem o segundo balcão), um estúdio e dois espaços para exposições e actividades mais experimentais ou conferências. A reabilitação, "se for possível", será feita pelo arquitecto Alexandre Alves Costa, que já foi convidado para o efeito.
Os murais de Júlio Pomar, alusivos à festa de S. João, foram pintados no foyer principal do edifício e numa parede junto ao balcão do cinema. Em 2006, uma tentativa de verificação do seu estado, para eventual recuperação, desenvolvida a pedido da Associação de Comerciantes do Porto (que tentou reactivar o cinema encerrado em 2002), acabou por danificar as pinturas, como foi noticiado na altura e relembrado esta segunda-feira por Rui Moreira: "A última intervenção no Batalha estragou muita coisa e nós teremos que repor", disse. O autarca garantiu que a reabilitação prevista passa muito pela reposição dos seus elementos originais. "Temos uma visão patrimonial do edifício", garantiu.