Contra o embaixador de Trump em Bruxelas, marchar, marchar!
Eurodeputados querem ajuda da Comissão e do Conselho Europeu para evitar que Ted Malloch venha a ser o novo embaixador dos EUA na União Europeia.
A possibilidade de Ted Malloch vir a ser escolhido como embaixador dos Estados Unidos na União Europeia (UE) pôs Bruxelas em alvoroço. Os líderes dos principais partidos representados no Parlamento Europeu (PE) tomaram a iniciativa sem precedentes de escrever à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu pedindo ajuda para rejeitar a sua nomeação, se ela vier a confirmar-se.
Malloch, um empresário entusiasta do “Brexit”, é descrito pelos eurodeputados como “hostil e com más intenções”, diz o jornal The Guardian. Os líderes do Partido Popular, dos Socialistas e dos Liberais, que representam os 28 estados da UE, juntaram-se depois de ter sido noticiado que Malloch foi entrevistado por Trump para o lugar de embaixador americano em Bruxelas. E depois de uma entrevista à BBC 2, a 27 de Janeiro, em que disse que o euro “pode entrar em colapso no próximo ano e meio.”
O desagrado dos eurodeputados não é de estranhar. “Já tive um posto diplomático, em que ajudei a derrubar a União Soviética. Talvez haja outra união que precise de ser algo domesticada”, disse na BBC. E sobre Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, disse: “Penso que teria sido adequado para presidente de câmara no Luxemburgo, talvez deva voltar para lá.”
Numa carta enviada a Juncker e a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu – à qual o Guardian teve acesso –, Manfred Weber, líder do PPE, e Guy Verhofstadt, que preside à Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), acusam Malloch de “maldade ultrajante” perante os valores que definem a UE.
“Nas últimas semanas, Ted R. Malloch, o provável nomeado pelo Presidente Trump para ser o novo embaixador dos EUA na União Europeia, fez uma série de declarações públicas a denegrir a União”, expressando nessas palavras “a sua ambição de domesticar o bloco europeu, do mesmo modo como derrubou a União Soviética”, e também de apostar "explicitamente na dissolução da moeda única em poucos meses".
Continuam Weber e Verhofstadt: "Estas declarações revelam uma maldade ultrajante perante os valores que definem a União Europeia e, se pronunciadas por um representante oficial dos Estados Unidos, poderiam minar seriamente a relação transatlântica que, nos últimos 70 anos, contribuiu essencialmente para paz, estabilidade e prosperidade no nosso continente.”
No mesmo sentido se pronunciou Gianni Pittella, líder da Aliança Progressiva dos Socialistas e Democratas (S&D), o segundo maior grupo do PE, que classifica as declarações de Malloch como "chocantes", e desafia as instituições europeias a considerá-lo “persona non grata”.
"O Sr. Malloch expressou-se abertamente a favor da dissolução da UE e quer ver o fim da moeda única dentro de meses, mostrando claramente a sua hostilidade não só em relação à União enquanto tal, mas também aos nossos valores e princípios comuns. Acreditamos firmemente que ignorar esta posição inaceitável minaria a nossa relação futura com a administração dos EUA, e poderia contribuir para disseminar o populismo e o eurocepticismo em toda a Europa. Por conseguinte, o grupo S&D é claro em afirmar que o Sr. Malloch não deve ser aceite como um representante oficial para a UE e deve ser declarado um 'persona non grata'", escreve Pittella.
Para que um embaixador designado para a UE seja credenciado como chefe de uma missão em Bruxelas, é necessária a aprovação da Comissão e do Conselho europeus, bem como do Serviço Europeu para a Acção Externa, o equivalente ao ministério dos negócios estrangeiros.
Os líderes dos grupos conservadores e liberais acrescentam ainda na sua carta: "Estamos firmemente convencidos de que pessoas que vêem como sua missão dissolver a União Europeia não devem ser acreditados como representantes oficiais" em Bruxelas.
Numa declaração ao Guardian, ainda sobre a carta enviada aos dois presidentes da UE, Guy Verhofstadt – que é também, no PE, o responsável pela negociação do “Brexit” –, disse: "Malloch fez uma série de declarações públicas denegrindo a UE, que ameaçam minar a nossa relação tradicionalmente forte com os Estados Unidos. A última coisa de que precisamos na Europa é de mais nacionalismo, agora exportado pela administração Trump. Exigimos que sua acreditação seja rejeitada".
Ainda sobre este tema, o jornal The Guardian publicou outra carta, subscrita por 52 figuras ligadas à administração da UE, pedindo aos seus líderes que aproveitem a reunião informal que decorre esta sexta-feira em La Valetta, Malta, para enfrentar Trump no caso da sua ordem executiva sobre a imigração de cidadãos provenientes de países muçulmanos.
Theodore Roosevelt Malloch, de 64 anos, é professor, empresário, produtor de televisão no grupo CNN e conselheiro, presidindo actualmente à companhia de estratégia financeira Global Fiduciary Governance. Já desempenhou um cargo de representante dos Estados Unidos nas Nações Unidas, em Genebra.