Desolados, mas nem por Silêncio ser o “projecto da vida” de Scorsese, o filme em que ele ataca de frente a “questão” do seu catolicismo, encontramos nele alguma coisa que faça pensar na revigoração duma obra que anda há vários filmes em panne, e a viver de réplicas formais ou temáticas sem um pingo da força que já existiu.
Austero Silêncio é, por certo, mas não é uma austeridade tipo Gertrud, é a austeridade do academismo falho de vigor e imaginação (permeável à fealdade cliché daquele reconstituição do Japão antigo que tantas vezes parece um planeta da Guerra das Estrelas), a escudar-se na solenidade do tema como se encontrasse nele uma auto-justificação. Na semana de estreia a capa do Ipsilon dizia que “este filme é para quem acredita”, e de facto a relação que parece pedir é de tipo religioso ou, vá lá e de forma mais comezinha, um caso extremo de “suspensão (ou não) da descrença”.
Ora, não acreditamos; não acreditamos nas máscaras de sofrimento e conflito interior de Liam Neeson ou (sobretudo) Andrew Garfield, e só vemos o que vemos: actores a fazerem muita força para que acreditemos neles. O milagre não acontece, ficamos do lado dos descrentes.